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Professor da UFCG lança livro com escritos inéditos de Lima Barreto

Atividade acontece na próxima sexta, dia 13, às 19h, no Bloco CAA, sala 202

 

Acontece na próxima sexta-feira, dia 13, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o lançamento do Livro Cartas de um matuto e outros causos, que reúne escritos inéditos de Lima Barreto que foram publicados, sem assinatura, entre os anos de 1908 e 1917 na rrevista semanal Careta. A atividade acontece às 19h no Bloco CAA, sala 202, campus sede.

 

A obra foi organizada pelo professor Rogério Nascimento da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais (UACS), do Centro de Humanidades (CH), que conta que as narrativas encontradas no livro estão escritas em linguagem matuta. Há também pequenas notas, chamada de causos.

 

“Os versos são cartas assinadas, na sua grande maioria, pelo coronel e Conde do Papa Tibúrio d'Annunciação à sua comadre Thereza Maria da Conceição. Ele saiu de seu pequeno arraial, Sant'Anna do Rio Abaixo, juntamente com sua mulher, Biella, e sua filha Bibi. Nestas cartas,  conta de sua estadia no Rio de Janeiro e descreve para ela o que  observa e vive desde que foi para aquela cidade. Há cartas em versos escritas pela comadre, pela mulher, filha e outros dois personagens, mas predomina em quantidade as cartas do coronel”, revela.

 

Sobre Lima Barreto

 

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), mais conhecido como Lima Barreto,  nasceu no dia 13 de maio no Rio de Janeiro.  Atuou como jornalista e contribuiu para alguns periódicos anarquistas do início do século XX e um dos mais importantes escritores brasileiros

 

Confira um trecho da primeira carta encontrada no Livro Cartas de um matuto e outros causos:

 

Minha comadre Thereza

Maria da Conceição.

Um abraço no compadre

E no afilhado, a benção;

Dê lembrança ao Antonico,

À gente do Bastião

E saudades ao Febrônio

E a toda a obrigação.

 

Eu cá tenho muita coisa

Comadre, pra lhe contar.

Este Rio de Janeiro

É mesmo um nunca acabar.

Um pobre home matuto,

De longe, de outro lugar,

Quando chega cá na côrte

Tem o juízo a girar.

 

E você não imagina,

Minha comadre Thereza,

Pra lhe dizer a verdade,

Pra lhe falar com franqueza,

Eu que sou home correto,

De sustância na firmeza,

Lhe digo, minha comadre,

Que esta corte é uma beleza.

 

Tem cada egreja, acredite,

Que não sei como é que não

A gente ali não se perde

No momento da oração.

E nas egrejas que falo

(Parece carapetão)

Há santos pelos altares

Mais maió que o Bastião.

 

Vassuncê não imagina

Os porguéssus desta terra.

Há tanta gente na rua

Que parece até que é guerra.

Ha um bicho excomungado

Que não sei que diabo encerra.

Por detrás bota fumaça

E pela frente é que berra.

 

É por uma manivela

Que esse demônio se move,

E quando sae fumaçando,

Arreda! Com ele é nove!

Essa invenção do capeta

A gente chama ótomove.

 

Para dizer a verdade

E para bem lhe explicar,

Um cavalo a toda força

Não é capaz de o pegar.

E quando ele sae fungando

Não para mais de fungar

E os aroma que ele expele

Não se pode suportar.

 

Há muita coisa, comadre,

Que se eu lhe fosse contando

Vassuncê jurava mesmo

Que eu é que estava inventando.

Tem bonde andando nos trios

(Comadre vá escutando)

E bonde que anda sozinho,

Sem burro à frente puxando.

 

Se eu lhe disser que nas ruas

As luzes dos lampião,

A gente ascende, comadre,

Sem azeite, sem morrão!

Mas porém inda tem outra

Que faz iluminação,

Bastando que a gente aperte

Num inlétrico botão.

 

E inda há mais um apareio

Que é das artes do capêta,

Fala mesmo como gente

Iguarsinho, não é pêta.

Não descobri os feitiços

De que foi feito essa trêta.

Mas penso ser o demônio

Que fala pela corneta.

 

(Ascom/UFCG - 10.05.2016)


Data: 10/05/2016