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Artigo - Engenharia elétrica: da formação teórica à utilização prática

Benedito Antonio Luciano e Edmar Candeia Gurjão *

               

Ultimamente, temos acompanhado algumas discussões nas redes sociais e fora delas sobre um suposto excesso de teoria na formação do engenheiro eletricista, sobretudo no tocante aos dois primeiros anos do curso de graduação.

 

Estudantes de engenharia sentem uma curiosidade natural de saber como uma fundamentação teórica pode ser posta em prática, ou seja, como um embasamento científico pode ser transformado em aplicações tecnológicas.

 

Alguns pais de alunos e mesmo alguns professores opinam que os alunos recém-ingressos no curso de graduação deveriam entrar em contato, desde cedo, com o dia-a-dia da engenharia fora do ambiente acadêmico, por exemplo, por meio de estágios ou  visitas técnicas. Há quem defenda que já na formação básica sejam ministradas disciplinas com conteúdos puramente tecnológicos. Alguns, em meio à argumentação, chegam a utilizar a frase: “formação voltada para o mercado”. 

 

Nós, entretanto, temos opinião diferente, por entendermos a importância e a necessidade de uma formação teórica sólida para que o engenheiro possa desenvolver suas atividades profissionais, dominando plenamente a arte da engenharia, articulando conhecimentos científicos e tecnológicos para produzir bens e serviços de interesse da sociedade, dentro de parâmetros de segurança, sem perder de vista os aspectos econômicos, sociais, éticos e o compromisso com a sustentabilidade. (Acho que fica cansativo, por outro lado não sei como dividir o parágrafo porque é a construção das ideias está muito bem encadeada.

 

Consideramos, também, ser essa formação sólida o que permite ao engenheiro acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho, cujas demandas e tecnologia mudam a cada momento.

 

É nessa dinâmica que dentro da academia ou fora dela é exigido do engenheiro eletricista um conhecimento sistêmico, generalista, envolvendo processamento da energia e processamento da informação, pois eletrotécnica, eletrônica e informática estão cada vez mais imbricadas.

 

Neste contexto, o método científico, quando bem aplicado na formação do estudante de engenharia, permite estruturar um problema e perscrutar as possíveis soluções. Assim, consideramos que esse método deve ser apresentado ao aluno no início de curso, e exigido nas disciplinas seguintes para que a aplicação seja aperfeiçoada.

 

A visão espacial e abstrata forjadas por disciplinas de Matemática são pré-requisitos para um profissional que irá projetar ou aplicar tecnologias as quais, em muitos casos, sequer foram pensadas para aquele contexto.

 

Adicionalmente, os fundamentos da Física permitem que se possam propor soluções viáveis, e descartar as impossíveis. Assuntos básicos de eletricidade e magnetismo apresentados de forma fundamental, permitem que as suas aplicações, em formato de tecnologias, sejam facilmente entendidas.

 

Com efeito, mesmo considerando que a apresentação rigorosa dos conceitos teóricos é de fundamental importância para a boa formação de um engenheiro, não podemos esquecer que engenharia é feita pela aplicação desses conceitos. Logo, também, consideramos que é importante, após a apresentação teórica, demonstrar como aqueles conceitos podem ser aplicados em problemas reais.

 

Face ao exposto, não seria oportuno expor precocemente o estudante ao mercado de trabalho sem a devida preparação. Por exemplo, sem o domínio das técnicas de medição, o que envolve o contato, em ambiente de laboratório, com os instrumentos analógicos e digitais, pois sem medição não há como realizar controle e gerenciamento. E mais importante do que saber medir, é saber o que está sendo medido.

 

Conhecer a natureza dos materiais e dos processos, assim como conhecer as influências do meio ambiente sobre as grandezas que se quer determinar por meio de instrumentos de medição, e a própria influência desses instrumentos sobre os fenômenos investigados são aspectos que não devem ser negligenciados na formação do engenheiro.

 

Em nosso entendimento, a engenharia elétrica, como qualquer atividade artística e profissional, não requer apenas vocação; requer dedicação, estudo, disciplina, aprimoramento das técnicas e atualização, sobretudo diante dos avanços tecnológicos e dos novos desafios deles advindos no cotidiano.

 

Assim, a formação de um engenheiro eletricista com base teórica sólida lhe dá mais possibilidades de adaptação e expansão de conhecimentos do que uma formação tecnológica, ou de “mercado”.

 

Oportuno lembrar que, são necessários anos de estudos para se dominar os fundamentos teóricos,  assim como para adquirir prática na engenharia.

 

*Os autores são professores do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 22/06/2016