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Artigo - Um Chamamento à Unidade

Roberto Siqueira*

 

Há, no país, um notório afastamento dos associados das atividades de suas entidades de representação sindical e, diante deste fato incontestável, nós precisamos encontrar respostas e não desculpas para esses percalços, pois neste “crime” somos todos réus, uns por ação e outros por omissão.

 

Para isso não existe receita pronta, pois a superação deste entrave sério deve nascer do necessário debate coletivo com a indispensável tolerância, objetivando a edificação da unidade na diversidade. A única certeza que temos é que a atual receita não tem funcionado.

 

Sabemos que a construção de uma saída para essa problemática é complexa, lenta e dolorosa, sobretudo para os nossos egos nem sempre abertos a uma autocrítica sincera, pois a insistente falta desta tem, historicamente, se convertido em um potencial predatório devastador para muitos movimentos sociais.

 

As paralisações, inegável e importante instrumento de luta, têm se transformado em paralisia, em letargia.

 

Necessário fazer-se uma autocrítica porque esta mercadoria tem sumido ultimamente das nossas prateleiras, razão maior da perda de legitimidade de tantas lideranças e governantes, que insistem em apostar na amnésia popular, nos marqueteiros e no surrado processo de cooptação.

 

É prudente ter em conta que perderemos em definitivo a capacidade de compreender a pluralidade da sociedade e das categorias que almejamos representar, se insistirmos nessa prática de imputar as nossas debilidades e fracassos, apenas, aos agentes exógenos, corremos o risco de nos isolarmos em uma redoma de “virtuosos” - mesmo cobertos de boas intenções, muito trabalho e inegável sacrifício pessoal e abnegação de alguns valorosos dirigentes sindicais.

 

Não resta dúvida de que a luta geral é indispensável e fundamental para que os movimentos não se alienem do contexto nacional, mas esta prática não deve ser hipertrofiada em relação à luta corporativa específica, fortemente aglutinadora dos associados e um dos pilares de uma entidade representativa de uma categoria.

 

Ademais, o isolamento traz em si o germe tentador do radicalismo pueril e do voluntarismo, na medida em que certas práticas não têm encontrado o respaldo no coletivo do qual nos distanciamos, dia a dia, por mil razões que não cabem ser debatidas neste diminuto espaço. Portanto, para alguns, parece só restar, como instrumento para justificar o esvaziamento de alguns movimentos sociais, a doutrina maniqueísta, que divide o mundo entre bons e maus, santos e demônios. Diante dessa avaliação simplista, sinto saudade de Dante, que me permitiria o “benefício” do purgatório, espaço intermediário entre o céu e o inferno; espaço em que, não sendo anjo nem demônio, o autor deste texto tenha a liberdade de fazer as suas reflexões.

 

O grave do maniqueísmo é que ele, além de fomentar a cultura do ódio e da apartheid, ele despolitiza, embota a reflexão, patrulha a liberdade de pensamento, pelo rótulo, pela intimidação ou pelo bullying, somente interessando aos manipuladores de massas ignaras, que não querem trazer à lúmen os seus verdadeiros interesses, as suas verdadeiras intenções. Neste momento nacional, se desejarmos enfrentar os ferozes ataques aos direitos trabalhistas e sociais em curso no Brasil, urge recompormos as verdadeiras bases sindicais, esfaceladas pela desastrosa política de cooptação, que teve e tem, ainda, como consequência, o alijamento de lideranças que não se prestam a servir o poder acriticamente.

 

Do contrário, se continuarmos insistindo em ações descoladas das bases - esquecendo o provérbio que diz que “é melhor dar um passo juntos do que mil sozinhos” -, se continuarmos a caçar pokémons, em uma exagerado apego ao mundo virtual de nossos desejos e de nosso voluntarismo, cairemos em um abismo ainda mais profundo do que este em que nos encontramos agora.

 

Urge que façamos a necessária autocrítica, ainda não realizada, se quisermos avançar em uma unidade que não seja meramente artificial ou de conveniência momentânea.

 

* O autor é professor da Unidade Acadêmica de Engenharia Elétrica da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 12/08/2016