topo_cabecalho
Artigo - Impressão de Leitura

Francisco M. de Assis*

 

Recomendo, não como especialista, mas como simples leitor encantado com a leitura, o belo livro de

Yuval Noah, “Uma breve história da humanidade - Sapiens”, LP&M, que trata com leveza e profundidade a trajetória da nossa espécie, Homo sapiens, iniciada faz 200 mil anos.

 

A obra é plena de interrogações quanto ao futuro, mas também quanto ao passado, bem como pontos de vista surpreendentes, pelo menos para mim. Por exemplo, a conhecida Revolucão Agrícola é classificada como a “maior fraude da história”. Noah argumenta que ao submeter-se aos ritmos do plantio e da criação o homem perdeu mobilidade e entrou em conflitos mortais por territórios férteis. O arroz escravizou o homem! O que o leitor acha disso?

 

São mencionadas teorias para o autocontrole de grupos humanos, segundo as quais para grupos de até 150 pessoas o contato pessoal é o mecanismo eficaz (teoria da fofoca). Para além deste número mágico, entram em cena mecanismos mais abstratos: a regulação, as narrativas e os mitos. Assim, dentro de uma Unidade Acadêmica, contato pessoal bastaria; todos se conhecem e podem dialogar tête-a-tête.

 

Entretanto para a UFCG como um todo, abstracões são indispensáveis. Note que entre essas abstrações encontram-se os regulamentos, as normas, os estatutos, a instituição, a hierarquia, programas, a ideologia, sindicatos, e assim por diante. Há na UFCG pesquisas nesse contexto?

 

Ocorre que é justamente essa capacidade para acreditar e aderir aos mitos e abstrações que Noah aponta como a grande força da espécie. Foi ela que possibilitou formar grandes grupos e convencer os indivíduos a agir de acordo com uma realidade interpessoal, uma narrativa que se instalou em suas mentes; agir em nome de um Partido, da Religião, da Pátria, da Causa, etc. O grande rival do Sapiens, o Homo neandertalis, aparentemente não embarcava nessa matéria diáfana dos sonhos. Justamente por isso teria sido extinto depois de um longo conflito no que hoje é a Europa. Todavia, essa capacidade de auto enganar-se permite também a ocorrência de lobos solitários e homens-bomba e não deixa garantias sobre a própria sobrevivência da espécie a longo prazo, muito menos sobre doutrinas que afirmam ter a história na mão!

 

* Francisco M. de Assis é professor de Engenharia Elétrica da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 15/08/2016