topo_cabecalho
Artigo - Sol e chuva

Benedito Antonio Luciano*

 

Sem Sol e sem chuva seria inimaginável a vida na Terra, tal como a conhecemos. O Sol é a principal fonte primária de energia e a chuva é essencial para a formação das reservas hídricas, essenciais para a sobrevivência dos seres que habitam o nosso planeta.

 

A importância do Sol é tamanha que muitas civilizações como os Egípcios, os Maias e os Incas o tinham como divindade.

 

Estava pensando sobre o assunto, quando me ocorreu uma curiosidade: quais as músicas disponíveis na minha coleção de discos teriam o Sol e a chuva referenciados em suas letras?

 

Lápis e papel na mão e comecei a fazer anotações. Sem maiores preocupações, fui listando as músicas que tinham a chuva como tema. A primeira que me ocorreu foi “Chove chuva”, composição de Jorge Ben, lançada em 1963.

 

Outras foram se seguindo, como: “Ritmo da chuva”, gravada pelo cantor Demétrius, numa versão brasileira da música “Rhythm of the rain”; “Chove lá fora”, composição de Tito Madi; “Medo da chuva” de Raul Seixas; “Have you ever seen the rain?” e “Who’ll stop the rain” gravadas pelo grupo “Creedence Clearwater Revival”; “Rain”, na interpretação dos Beatles, e “Na rua, na chuva, na fazenda”, lançada originalmente por Hyldon, em 1975.

 

Outra que não poderia ser omitida é a canção “Singing in the rain”, imortalizada na voz de Gene Kelly no musical “Cantando na Chuva”, filme norte-americano lançado em 1952, tendo como diretor Stanley Donen.

 

Para não citar apenas músicas gravadas em português e inglês, resolvi incluir na lista a canção francesa “Aux Champs Elysées”, gravada em 1969 por Joe Dassin, na qual a chuva (“la pluie”) é citada no refrão, que pode ser traduzido como: “No Champs-Elysées/ No sol, na chuva, ao meio-dia ou a meia-noite/ Há tudo o que quiser/ No Champs-Elysées”.

 

Depois, fui anotando, despretensiosamente, os títulos de algumas músicas que tinham o Sol como tema. A primeira foi “O Sol”, bela composição interpretada por Arnaldo Antunes: “O Sol está sempre ali no céu/A Terra é que faz o carrossel/ De noite o Sol apaga a sua chama/E dorme debaixo da minha cama...”.

 

Como não poderia ficar de fora, seguem-se três músicas gravadas pelos Beatles, nas quais o Sol (“Sun”) é o tema central: “Here Comes the Sun”, “Sun king” e “Good Day Sunshine”, as duas primeiras presentes no disco “Abbey Road”, lançado em 1969, e a terceira no disco “Revolver”, lançado em 1966.

 

O Sol brilhou, também, nas famosas e inesquecíveis canções: “You are the sunshine of my life”, na interpretação de Stevie Wonder; em “Sunshine on my shoulders”, composição de John Denver, como parte da trilha sonora do filme “Um dia de Sol”, lançado em 1973; e em “Aquarius/Let the sunshine in”, gravada pelo grupo “Fifth Dimension”, em 1969. Esta última fez parte do musical “Hair” (1967).

Efetivamente, numa lista como esta não poderia deixar de citar a música “Sol e chuva”, composição de Alceu Valença, gravada em 1976, no Rio de Janeiro: “Não, não quero mais/Brincar de Sol e chuva com você/ Não suporto mais/Brincar de Sol e chuva com você/...”.

 

Como “o que dá pra rir, dá pra chorar”, com o Sol e a chuva não é diferente. Para uns eles são sinônimo de alegria e para outros de tristeza. Esta dicotomia está presente nas letras de várias músicas nas quais as agruras dos viventes no Nordeste brasileiro são relatadas.

 

Dentre elas, uma das mais dolentes é “A triste partida”, música gravada por Luiz Gonzaga, em 1954, sobre o poema composto pelo cearense Patativa do Assaré.

 

Na mesma temática podem ser enquadradas “Aquarela nordestina”, composição de Rosil Cavalcanti, gravada por Marinês e Sua Gente: “No Nordeste imenso, quando o sol calcina a terra / Não se vê uma folha verde na baixa ou na serra/...”; o baião “Meu Cariri”, composto por Rosil Cavalcanti e Dilú Mello, gravada por Ademilde Fonseca: “No meu Cariri/ Quando a chuva não vem/ Não fica lá ninguém/Somente Deus ajuda/...”; e “Súplica cearense”, belíssima composição de Gordurinha e Nelinho: “Oh! Deus, perdoe este pobre coitado/ Que de joelho rezou um bocado/ Pedindo pra chuva cair sem parar/ ...” .

 

A luta insistente do nordestino para permanecer na sua terra até o último fio de esperança é descrita na letra da música “O último pau-de-arara”, composição de Palmeira Guimarães, Venâncio e Corumba, gravada originalmente em 1955: “A vida aqui só é ruim/ Quando não chove no chão/ Mas se chover dá de tudo/ Fartura tem de montão/ Tomara que chova logo/ Tomara meu Deus, tomara/ Só deixo o meu Cariri/ No último pau-de-arara/ Só deixo o meu Cariri/ No último pau-de-arara”.

 

E para não se alongar, fiquemos com uma das estrofes da música “Asa Branca”, famosa composição de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: “Hoje longe, muitas léguas/ Numa triste solidão/ Espero a chuva cair de novo/ Pra mim vortá pro meu sertão”. Ou, também, com uma das estrofes da música “A volta da Asa Branca”, composição de Zé Dantas e Luiz Gonzaga: “A seca fez eu disertá da minha terra/ Mas felizmente, Deus agora si alembrô/ De mandar chuva pr’esse sertão sofredô/ Sertão das muié sera/ Dos homes trabaiador”.

 

Assim, dependendo do local e do contexto, para uns a chuva e o Sol podem ser motivos de alegria, esperança e até inspiração. Para outros, entretanto, a falta ou o excesso deles podem causar desespero, desilusão e sofrimento, como nos casos dos atingidos pelas secas ou pelas inundações.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 28/11/2016