Eugênio Felipe*

A surdez é um grande desafio para nós que trabalhamos com a escuta...

Certa vez, lá por 1998/99, na antiga Unidade da Criança do HUAC, participou de um grupo de mães uma senhora residente em sítio, cujo sexto e caçula filho, de cinco anos, era candidato à psicoterapia pois não falava.

A mãe participou assiduamente das oito reuniões obrigatórias para que o filho pudesse ter atendimento.

Participava bem das discussões e teve afinal sua sessão individual para que fosse iniciado o atendimento do filho.

Chega-me, afinal, o simpático paciente, sempre me fitando nos olhos.

Apresentei-lhe a sala, os jogos e brinquedos, e a cada perguntinha que eu fazia ele balançava a cabeça afirmativamente.

Ele mostrou interesse por um determinado jogo e fomos para a mesinha. 

Finalmente fiz-lhe uma pergunta sobre qual cor ele preferia para ser o seu pino. 

Resposta: balançou a cabeça afirmativamente!

Isto é, finalmente percebi que estava lidando com uma criança surda cuja mãe levava qualquer um a crer em algo diferente, menos surdez.

À época havia uma escola de áudio comunicação na rua José de Alencar, Prata. Hoje esta escola funciona ao lado do terminal rodoviário.

Fui até lá, informei-me sobre como aquela mãe e seu filho poderiam ter acesso.

Na semana seguinte pessoalmente levei os dois até lá. 

Realizada a inscrição da mãe no curso de Libras e do menino em uma assistência geral, dei-lhes "alta".

Uns seis meses depois, reencontrei a mãe com um dos outros filhos na fila de um médico, na mesma Unidade da Criança.

Ela veio ao meu encontro para dizer que o filho estava bem e ela também... E que a escola estava sendo muito boa para ambos. Fiquei, claro, feliz!

Apesar do atropelo que a negação da mãe e a minha curta experiência causaram, tudo acabou tendo um bom caminho...

Fico me perguntando: como será que estão essas pessoas, dezoito anos passados?

Só sei que foi uma experiência que ainda me FALA ALTO, até hoje!

Escutei a lição...

* Eugênio Felipe é psicólogo na UFCG

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