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Artigo - Pinto Velho do Monteiro: um cantador sem parelha

Benedito Antonio Luciano*

 

Recentemente, fui presenteado com um livro: “Pinto Velho do Monteiro: um cantador sem parelha”, de autoria do escritor Joselito Nunes (Zelito Nunes). Quem me agraciou com a obra foi o colega professor Vimário Simões, monteirense como o famoso cantador paraibano homenageado no livro.

 

Pinto do Monteiro é o codinome de Severino Lourenço da Silva Pinto, exímio cantador nascido em Carnaubinha, em 21 de novembro de 1895, numa propriedade distante cerca de quinze quilômetros do município de Monteiro (PB).

 

Acompanhando a quarta edição do livro “Pinto Velho do Monteiro: um cantador sem parelha”, essa que me foi presenteada, há um encarte com um CD, no qual se pode ouvir o registro fonográfico da voz do cantador, gravado em 1985, ora sob a forma de depoimento, ora cantando, acompanhado de viola ou pandeiro.

 

A qualidade da gravação não é boa, assim como a emissão vocal do cantador. Porém, o mais importante é o que ficou evidenciado na gravação histórica: a rapidez de raciocínio e a capacidade impressionante de versejar com extrema lucidez, sobretudo para um homem de noventa anos.

 

Nas páginas do livro, o leitor encontrará depoimentos importantes sobre Pinto do Monteiro, como os feitos pelo poeta Jansen Filho; pelo músico Sivuca; pelo poeta e escritor Ivo Mascena; pelo poeta Astier Basílio; pelo jornalista Ricardo Anísio; por Renato Phaelante, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, além de uma entrevista concedida por Pinto ao jornalista e poeta Orlando Tejo, na casa de Urbano Lima, engenheiro e pesquisador de cultura popular, no dia 27 de dezembro de 1975, em Recife (PE).

 

Em geral, os livros sobre o gênero da cantoria são baseados na oralidade. Neles, são apresentadas estrofes ditas de improviso e a contextualização em que elas foram colhidas de oitiva por apologistas (apreciadores da arte da cantoria que acompanham o trabalho dos cantadores), assim como depoimentos de outros cantadores.

 

No livro “Pinto Velho do Monteiro: um cantador sem parelha” o autor, Zelito Nunes, foi além, ao apresentar, em anexo, elementos colhidos em seu trabalho de pesquisa sobre o homenageado, tais como: o necrológico de Pinto do Monteiro; seus dados biográficos; cópia do documento de identidade, emitido em Recife, em 1975; cópia da certidão de óbito, datada de 29 de outubro de 1990, na qual consta uma observação curiosa: “O extinto não deixou filhos nem bens a inventariar, não era eleitor”.

 

Adicionalmente aos anexos, o autor apresentou algumas fotos do bardo de Monteiro em idade avançada, já no fim de sua existência, e a bibliografia utilizada para a realização da obra.

 

Ao ler o livro, o leitor ficará sabendo que Pinto de Monteiro antes de se tornar cantador foi vaqueiro, tendo exercido, posteriormente, diversas funções, tais como: soldado de polícia, em Serra Talhada (PE), dono de uma fábrica de cuscuz, em Recife (PE), guarda do serviço contra a malária em Porto Velho (RO) e Guajará-Mirim (RO), além de ter morado em cidades do Norte e Nordeste brasileiro, dentre elas: Boa Vista (RR), Manaus (AM), Belém (PA), Fortaleza (CE) e Rio Branco (AC).

 

Para que o leitor tenha uma ideia da rapidez de raciocínio e irreverência de Pinto do Monteiro, certa vez comandando um grupo de cantadores convidados pelo então governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros, para uma apresentação, ao ouvir do governante uma saudação depreciativa – O que estão fazendo aqui estes bandidos? Pinto respondeu em cima da bucha e no mesmo tom – Procurando o chefe!

 

Em outra oportunidade, em Olinda (PE), ao ser perguntado por uma jornalista principiante se ele seria semialfabetizado, Pinto respondeu da seguinte forma: - Não senhora, semialfabetizada é a senhora, eu sou completamente analfabeto!

 

Repentista sem igual na arte de unir versos, ele estava a se apresentar em uma cantoria: “Eu sou Severino Pinto/O cantador deste Estado”, quando inoportunamente foi atrapalhado pelo cantar de um galo em um terreiro próximo; sem solução de continuidade o poeta prosseguiu: “Cala o bico, galo velho/ Deixe eu cantar descansado;/  Que o pai que arremeda o filho/É um amaldiçoado.”

 

Assim era Severino Lourenço da Silva Pinto, o Pinto do Monteiro, um dos maiores improvisadores nascido na Paraíba; inteligência sempre de atalaia, um “cantador sem parelha”, primeiro sem segundo na “vereda apertada do repente”.

 

*Benedito Antonio Luciano é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

**As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 26/10/2017