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Artigo -Dr. Virgílio Brasileiro, um presente que Deus me deu

Marcelo Bezerra Grilo*

 

Dr. Virgílio Brasileiro, um presente que Deus me deu Marcelo Bezerra Grilo Infelizmente, só conheci pessoalmente Dr. Virgílio Brasileiro nos primeiros anos deste século XXI. Portanto, nossa convivência, que a partir de então se tornou quase diária, foi de apenas cerca de quinze anos.

 

Tenho amizades mais longevas, mas nenhuma delas tem a dimensão de afeto, respeito, admiração e carinho como a que mantive por esse homem brilhante. Por isso, o considerava como frater (irmão) mais velho, ou melhor, como ele dizia: “Marcelo você é um presente que Deus me deu, com vinte anos de diferença.” Em 2017, ele com 81 e eu com 61.

 

O nosso primeiro encontro se deu no Campus da UFCG (supra omnes lux luces), em Campina Grande, lugar que ele frequentava, assiduamente, após a aposentadoria. Retornando a Campina Grande, após concluir meu doutorado em Engenharia, e como havia estudado e morado em Paris e Recife, a paixão por essas três cidades foi o vetor inicial e o combustível para nos aproximar.

 

Ao longo de nossas conversas, descobrimos que tínhamos muito mais coisas em comum, pois somos católicos e impregnados dos valores e do carisma franciscano. Ele conhecia, como poucos, a história do seráfico convento franciscano de Ipuarana e da Diocese de Campina Grande. Conviveu com todos os bispos que passaram por aqui, desde Dom Anselmo Pietrulla até o mais recente, Dom Frei Manoel Delson.

 

Não tenho a estatura de sua dimensão intelectual, nem a profundidade, o carisma e sabedoria de sua análise histórica e filosófica da vida e dos acontecimentos. Mas, também, sou leitor inveterado e devorador de livros, nas mais diversas áreas do conhecimento.

 

Frequentadores assíduos de bibliotecas e livrarias, públicas e particulares, sempre tínhamos assuntos para conversar, que, as vezes, demorava, seguidas horas, em que compromissos prévios se perdiam pelo prazer de estarmos a dialogar. Em comum, o gosto pela história, a cultura e a civilização francesa.

 

Muitas vezes, o recebi na minha casa, no bairro universitário, para conversar em língua francesa, que ele dominava como poucos. Vimos juntos muitos filmes franceses, na língua que ele tanto amava. Gostávamos de ler e reler, no original, clássicos da literatura da França.

 

Recentemente, vimos um filme russo “A última Estação” (que conta parte da vida do grande escritor Tolstoy, quando este retorna a sua terra natal, Yasnaya Polyana, e mostra sua viagem pela grande Mãe Rússia até sua morte na estação ferroviária da cidade de Astopow). Vimos este filme dublado em francês. Geralmente, essas tertúlias literárias ocorriam nas quartas-feiras, a partir de meio dia, na minha casa.

 

Não posso esquecer-me de lembrar um dia em que chegamos para o almoço e ele viu na minha biblioteca vários livros recém adquiridos, entre eles “Os melhores contos de Anton Tchekhov”.

 

Após o almoço, nos dirigimos a um terraço sombreado da casa. Era o dia do solstício de Verão de 2015, em Campina Grande. Ele leu em voz alta e com entonação apropriada, o clássico conto “A mulher do Farmacêutico”, a emoção foi imediata. A partir deste momento, me contou parte da história de vida de seu Pai, falando com entusiasmo, admiração e saudade de seu genitor. Falou de sua família, em especial, sua esposa Iracema e seus filhos. Nesse dia, celebramos com embriagada emoção, essa viagem ao coração de sua vida pessoal e por isso, me perdoe dona Iracema, tomamos cada um dois cálices de um especial vinho do Porto, que eu guardava, trazido diretamente de Portugal, esperando ocasião propícia.

 

Muitas outras histórias temos em comum: passagens, encontros e celebrações. Prometo que oportunamente, em honra a sua bela história de vida, ainda vou contar. Campina Grande conheceu o médico e cidadão Dr. Virgílio. Eu conheci e convivi com o intelectual, poliglota, franciscano, historiador, ... e irmão. Homem simples e querido, amigo com dimensões infinitas, um presente que Deus me deu.

 

* Marcelo Bezerra Grilo é professor da Unidade Acadêmica de Engenharia Mecânica da UFCG e nasceu em Bananeiras, PB.

 

**As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 30/10/2017