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Projeto da UFCG promove Educação em Saúde entre gestantes no bairro do Pedregal

Foram realizadas quinze rodas de conversas com temáticas sugeridas pelas gestantes 

 

Quando começou a fazer o pré-natal na Unidade Básica de Saúde Adalberto César, no bairro do Pedregal, em Campina Grande, com dois meses de gestação, Rivalda Alves não imaginava que iria aprender tanto sobre o universo da maternidade. E mais: a diarista não tinha ideia de que iria conseguir compartilhar sua experiência de vida e que aquela ação seria libertadora para ela e outras gestantes ali presentes. Essa troca de saberes e experiências foi possível graças a um projeto de extensão desenvolvido por uma equipe da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), cujo objetivo é promover o cuidado e o empoderamento das gestantes, através de debates em rodas de conversas. Cerca de trinta mulheres foram beneficiadas pela iniciativa.

 

O projeto “Ações de Educação em Saúde com a gestante na perspectiva do Ensinar e Aprender” teve início no mês de maio, com apresentação para a equipe da Unidade de Saúde e definição e estabelecimento do cronograma de atividades. Foram realizadas quinze rodas de conversas entre os meses de junho e setembro, com a participação de, em média, seis gestantes por encontro. As conversas aconteciam semanalmente, durante a espera para o atendimento de pré-natal, no horário da manhã.

 

Nas rodas, temas sugeridos pelas próprias gestantes - como sexualidade, momento do parto, primeiros cuidados com o recém-nascido e amamentação -, eram debatidos junto com a equipe do projeto de forma leve e descontraída. O objetivo era deixar as gestantes à vontade para que elas pudessem esgotar suas dúvidas, interagindo com o grupo.

 

“Trabalhamos com as metodologias ativas e participativas, compreendendo que todo mundo tem acúmulo de saber e as necessidades de aprendizagem vão depender do que as gestantes trazem para as rodas, das inquietações delas. Não levamos aquela palestra dura, pronta, academicista. A gente leva uma pergunta disparadora, que é o que vai desencadear toda discussão. Como é uma roda de conversa, a gente propicia mesmo que seja um clima descontraído. Arrumamos todo o ambiente de acordo com a temática, preparamos todo o material antes: cartazes, dinâmicas, lembrancinhas, levamos um café da manhã”, explica a professora da área de Saúde Coletiva da UFCG, Gisetti Corina Gomes Brandão, coordenadora do projeto.

 

Aprendizado mútuo

 

Durante as rodas de conversa, todo o processo é realizado de forma horizontalizada, proporcionando um debate de igual para igual e um aprendizado mútuo e constante.

 

“A gente se engana, subestima e acha que o saber só está na academia. Mas quando oportunizamos a fala, você não tem noção do acúmulo de saber que essas pessoas nos mostram. As gestantes trouxeram para as rodas vivências fantásticas, que ajudaram muito quem não tinha experiência. Inclusive, tivemos depoimentos belíssimos dos próprios alunos dizendo que nunca pensaram que iriam aprender tanto com elas. O processo é de aprender sempre, tanto por parte da academia, como por parte do usuário e da equipe da Unidade”, enfatiza.

 

Que o diga a estudante Thais Luana de Lima Araújo, do sexto período do curso de Enfermagem. Bolsista do projeto, a aluna se mostrou surpresa com o empoderamento das gestantes em relação a algumas temáticas trabalhadas. “Eu não pensei que elas teriam conhecimento sobre a violência obstétrica, por exemplo. Elas se mostraram bem empoderadas. A troca de aprendizado foi muito boa e os encontros, bem proveitosos. A gente tem o papel de facilitador e as gestantes sempre participavam, tiravam as dúvidas e acrescentavam muito no saber”, conta a aluna sobre sua primeira experiência com Educação em Saúde, acrescentando que pretende seguir trabalhando na área.

 

O projeto agora está em fase finalização, com construção de relatórios e relatos de experiências para publicação de artigos e trabalhos em congressos científicos. Mas a ideia não é parar por aí.

 

“A educação, a promoção e a prevenção na Saúde é atribuição da equipe da Unidade, só que ela não dá conta em função da demanda e da rotina de trabalho. E também não prioriza, porque está muito centrada no modelo hospital e centro biomédico. Mas quando chegam essas ações, a comunidade gosta e se encanta. Quando a gente sai, os pacientes vão cobrar da equipe da Unidade. É muito sofrido quando acaba um projeto desses, porque a demanda é cíclica, contínua”, resume Gisetti, que pretende submeter o projeto para renovação no Programa de Bolsa de Extensão (Probex).  

 

A equipe do projeto é formada pelos alunos Camila Gonçalves de Queiroz, Daniel de Araújo Paulino, Isis de Siqueira Silva, Jardel Marcelle dos Santos, Maria Eduarda F. de Albuquerque, Leticia Lany de M. Medeiros, Rafaela M. Galvão, Pedro Bezerra Xavier e Thais Luana de Lima Araújo, dos cursos de Enfermagem, Medicina e Psicologia, sob a coordenação da professora Gisetti Corina Gomes Brandão.

 

Quando o falar e o ouvir ensinam e libertam

 

A segunda gestação da diarista Rivalda Alves, 37, aquela do início da matéria, não foi fácil. Mãe de Larissa e da pequena Ana Laura, nascida em agosto, ela enfrentou uma gravidez de alto risco sozinha. Quando descobriu que estava grávida da segunda filha, o pai da criança a abandonou. Diagnosticada com diabetes gestacional e pressão alta, teve várias complicações e precisou ser internada diversas vezes. Rivalda poderia ser mais uma a figurar nas tristes estatísticas de uma comunidade de alta vulnerabilidade social como o Pedregal. Poderia, mas conseguiu virar o jogo. E o projeto desenvolvido pela equipe da UFCG na Unidade Básica de Saúde do local ajudou nesse processo.

 

“Eu sofri um abandono durante a gestação e achava que só eu que estava passando pela situação. No momento em que essa temática foi abordada durante uma roda de conversa, outras gestantes colocaram isso na roda também e eu vi que isso poderia acontecer com qualquer pessoa”, lembra.

 

Rivalda conta que as rodas de conversa foram de suma importância para que ela pudesse adquirir experiência com outras gestantes e também transmitir sua vivência. “Era aquele momento que a gente tinha de se reunir e poder expressar nossos sentimentos e o que estávamos passando, através de vários temas. A gente criou um vínculo com o grupo e eu ficava ansiosa pela próxima roda. Foi maravilhoso”.

 

Segundo a mamãe, o processo foi tão libertador, que ela passou a adquirir mais confiança em si mesma. Inclusive, pretende voltar a estudar e retomar seu curso de Enfermagem. “Esse assunto foi muito mágico, porque eu consegui me abrir no meio de toda a roda, para um sentimento que estava fechado. Em uma conversa surgiu o abandono, a força, a alegria, como se a gente renascesse das cinzas como uma fênix”, finaliza.

 

(Ascom UFCG)


Data: 24/10/2018