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Passeio virtual mostra exposições do Museu Nacional antes do incêndio

Projeto em parceria com a Google e o MEC relembra acervo destruído pelo fogo

 

Há pouco mais de cem dias, um incêndio de grandes proporções destruiu o prédio e parte considerável do acervo do Museu Nacional. A instituição, referência internacional em pesquisas, oferecia a cariocas e turistas coleções únicas montadas ao longo de 200 anos de história. De fósseis de dinossauros a múmias e sarcófagos egípcios, peças únicas como o crânio de Luzia — o fóssil humano mais antigo da América do Sul — foram perdidas ou estão armazenadas longe do público. Hoje, a UFRJ, em parceria com a Google e o Ministério da Educação (MEC), anuncia a inclusão do Museu Nacional na plataforma Google Arts & Culture, com o lançamento de sete exposições on-line e de um tour virtual com imagens em 360 graus do Street View .

 

O convênio foi assinado em 2016 e as imagens em 360 graus foram capturadas ao longo do ano seguinte. Chance Coughenour, gerente de programas na Google Arts & Culture, explica que todo o trabalho foi guiado por funcionários do Museu Nacional, que indicaram quais partes da exposição deveriam ser incluídas no passeio virtual, que cobre cerca de 60% dos espaços abertos à visitação antes do incêndio.

 

— Honestamente, o incêndio me pegou de surpresa. Foi trágico. Felizmente, nós estávamos trabalhando há meses no projeto, então discutimos com o museu se eles gostariam de levar essas imagens para a plataforma — afirmou Coughenour. — A partir de agora, qualquer pessoa do mundo vai poder conhecer a riqueza do acervo que o Museu Nacional tinha antes do incêndio.

 

O passeio virtual começa do lado de fora do museu, no jardim diante da fachada do palácio. No interior, a visita começa pela exposição de Luzia e da arqueologia brasileira, com artefatos sobre a ocupação humana do país no passado. A segunda parte destaca o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado em solo brasileiro, pesando mais de cinco toneladas. O passeio segue para o Torso Nu, uma estatueta da deusa Vênus descoberta em escavações na Itália, e depois para a coleção egípcia, com destaque para o caixão de Sha-amun-en-su e um gato mumificado.

 

A visita destaca ainda a seção de paleontologia, com a réplica de um titanossauro, a primeira já montada no país, e das coleções de zoologia. Encerram o passeio virtual a exposição de arte amazônica, com o vaso globular Marajoara, e o espaço dedicado a artefatos africanos, destacando o Zinkpo, o trono de um antigo rei de Daomé, onde hoje está Benim.

 

— Foi fantástico trabalhar nesse projeto porque eu, como arqueólogo, aprendi muitas coisas — comentou Coughenour.

 

Em cada seção, há uma explicação em áudio sobre o conteúdo da exposição. A ideia é que os internautas usem óculos de realidade virtual para imersão total no museu. Além do passeio virtual, foram montadas sete exposições on-line, com fotos e textos produzidos pelos funcionários do Museu Nacional sobre arqueologia pré-colombiana, Egito antigo, povos indígenas do Brasil, cultura mediterrânea, arqueologia brasileira, cultura africana e paleontologia.

 

— Existe o lado nostálgico, de poder olhar as peças que estavam no museu, o que é bem legal — comentou Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional. — Mas o meu maior interesse está em projetos para o futuro.

 

Na cerimônia marcada para a manhã desta quinta-feira, o MEC irá anunciar a concessão para a UFRJ, direcionada ao Museu Nacional, de um terreno de 49 mil metros quadrados que pertencia ao Ministério do Planejamento, ao lado da Quinta da Boa Vista. Demanda antiga do museu, o espaço poderá ser usado para abrigar coleções para pesquisas e a parte administrativa da instituição.

 

Durante a semana, o governo alemão anunciou a doação de 180.800 euros, cerca de R$ 800 mil, para a compra de equipamentos emergenciais para o resgate e a recuperação de peças do acervo. Na ocasião, o Museu Nacional apresentou parte dos cerca de 1,5 mil itens que já foram resgatados dos escombros. Segundo o secretário executivo do MEC, Henrique Sartori, já foram liberados R$ 10 milhões para a contratação de empresas para o escoramento das estruturas e de contêineres para o apoio operacional dos trabalhos de resgate e recuperação. O projeto de reconstrução deve ser finalizado até o segundo semestre do ano que vem.

 

— A visitação virtual tem a importância simbólica, para as pessoas terem a memória daquele museu que pegou fogo, que acabou. Não temos mais aquele museu — afirmou Sartori. — Nós temos o compromisso com o que será entregue. Ter a memória viva daquele museu, mas trabalhar para que o Museu Nacional possa ser reerguido.

 

(O Globo)


Data: 13/12/2018