topo_cabecalho
Brasil quer trocar peças da Estação Espacial por câmera

Nasa dá ultimato ao país para entrega de equipamento, sob pena de excluí-lo do programa da estação

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) está querendo produzir uma câmera para um satélite americano em troca das peças que seriam fabricadas como participação brasileira na ISS (Estação Espacial Internacional).

Caso isso se concretize, o país daria adeus ao acerto anterior feito com a Nasa (agência espacial americana) para a fabricação dos chamados Equipamentos de Suporte de Vôo. A câmera de satélite iria para uma outra agência americana, a Nasa, responsável por estudos da atmosfera e dos oceanos, e o protótipo de peça sendo fabricado hoje pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) não serviria para nada.

No Senai, os trabalhos continuam em andamento para a fabricação da primeira peça. "Já fizeram a moldagem da plataforma, importaram até um equipamento do Japão para fazer isso", disse Sérgio Gaudenzi, presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira). Ele afirma que a mudança não trará problemas ao Senai. "De todo jeito, o Inpe fará a certificação da peça, que é o que interessa para eles, ter uma peça certificada".

A idéia de fabricar a câmera para a Nasa foi engendrada pelo diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Procurado pela reportagem, ele disse que iria se manifestar sobre o assunto "dentro de alguns dias". A Folha apurou que Câmara terá uma reunião na próxima segunda-feira com dirigentes da Noaa, e em seguida irá à sede da Nasa, em Washington, para tentar fechar a reformulação do acordo.

Sua viagem tem o aval da AEB, embora Gaudenzi seja cético quanto às possibilidades de um acerto nos moldes propostos. "Acho muito difícil que a Nasa aceite uma modificação que acarrete a entrega de um produto para a Noaa, que é outra agência", disse.

A modificação poderia reduzir em até 50% o custo da participação brasileira na estação espacial. Hoje, o acerto prevê a fabricação de 18 peças com orçamento ao redor de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões.

Outra vantagem seria o acesso aumentado do país às imagens coletadas pela rede de satélites da Noaa, voltada para observação da Terra -"vocação" do programa espacial brasileiro, segundo Câmara.

Segundo Gaudenzi, o governo não vê problemas com a idéia, contanto que isso não dissolva a participação brasileira na estação espacial. "Podemos até não ter um segundo astronauta, mas precisamos continuar com a opção de enviar experimentos à ISS", disse.

Ou dá ou desce

A despeito dos desejos do presidente da AEB, o Brasil está sob sério risco de ser expulso do programa, com ou sem modificações ao acordo. A Nasa enviou uma carta à agência brasileira com um ultimato: ou o país entrega um cronograma de entrega das peças sob sua responsabilidade até o fim de maio -ou seja, ontem-ou será excluído do projeto da ISS.

Raimundo Mussi, que gerenciou a missão do astronauta brasileiro à estação espacial, viajou até os EUA para pôr os panos quentes, e comunicou à Nasa que o cronograma iria atrasar mas que o presidente da AEB, Gaudenzi, em breve viajaria até lá para renovar acordos de cooperação e rever a participação brasileira na ISS.

Os americanos ainda não decidiram o que fazer disso. Mas há uma pressão grande na Nasa para a exclusão do Brasil e a contratação de empresas americanas na fabricação das peças hoje designadas a AEB.


Data: 01/06/2006