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Livro com proposta para o desafio da inovação no Brasil

Brasil ainda está longe de ter um sistema maduro de inovação tecnológica, diz Roberto Sbragia, da USP, que acaba de coordenar um livro sobre o assunto e sugere o modelo da hélice tripla, com empresas no comando do processo.

O tema da inovação tecnológica no Brasil tem gerado debates acalorados em muitos fóruns acadêmicos e empresariais nos últimos anos. Se muitas opiniões são conflitantes, a única concordância é quanto ao diagnóstico do problema: o país, nesse campo, está muito atrasado.

Roberto Sbragia, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP), está há 30 anos envolvido com o tema. Além de considerar que o atraso realmente existe, ele também está preocupado em mostrar caminhos para que o cenário possa mudar no futuro.

Parte das propostas de Sbragia está reunida no livro Inovação, como vencer esse desafio empresarial, lançado pela Clio Editora.

Trata-se de um estudo feito por encomenda do Fórum de Líderes, sociedade civil sem fins lucrativos, sediada atualmente em Belo Horizonte e presidida por Hermann Wever, presidente do Conselho Consultivo da Siemens e membro do Conselho Superior da Fapesp.

O livro também traz como autores Eva Stal, professora do curso de Administração na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Milton de Abreu Campanário, professor do Centro Universitário Nove de Julho, e Tales Andreassi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“O livro adota o modelo da hélice tripla, conceito moderno de sistemas de inovação integrados em que a empresa tem um papel focal. Ela deve funcionar, nesse processo, como uma espécie de centro nervoso”, explica Sbragia em entrevista à Agência Fapesp.

Para ele, é o setor privado, em primeiro lugar, que deve identificar oportunidades de inovação para, em seguida, usar inteligentemente a universidade e as políticas públicas, outros dois atores fundamentais do ciclo inovador.

Segundo Sbragia, nos chamados processos de inovação maduros, existentes hoje em países como Estados Unidos e Japão, o ciclo se inicia na empresa, considerado o carro-chefe do sistema, para depois passar para a universidade e chegar ao governo.

“Mesmo dentro da empresa a inovação não ocorre por acaso. Ela precisa ser estimulada e ter um órgão, a chamada unidade de pesquisa e desenvolvimento, que deflagre uma determinada cultura inovativa”, afirma.

Mesmo que o processo seja deflagrado, ele não terá continuidade, segundo o professor da FEA, sem que os obstáculos nos outros dois conjuntos sociais sejam transpostos.

No caso das políticas públicas, por exemplo, apesar dos avanços registrados nos últimos anos, como a chamada MP do Bem (Medida Provisória nº 252, de 15 de junho 2005), a legislação brasileira tem sido muito marcada pelo burocratismo.

“A inovação costuma ser um casamento entre a necessidade do mercado e uma espécie de empurrão do mercado. Ela tem que ocorrer naquele momento. Não é possível esperar. Nenhuma empresa inova passando por um cartório”, afirma Sbragia.

No caso dos discutidos incentivos fiscais, segundo conta, eles devem ser considerados como um prêmio, dado posteriormente.

“Primeiro se faz a inovação e depois o benefício é dado. O conceito correto do incentivo é tentar diminuir o risco do investimento na inovação. O ideal é que eles sejam automáticos, como está previsto nessa última legislação, que ainda não está regulamentada”, explica o coordenador do livro agora lançado.

Ciclo completo

Para Sbragia, mesmo com as empresas tendo oportunidade de investir mais em inovação, a partir de uma cultura interna, nenhum sistema de inovação tecnológica amadurecerá sem a construção de uma interface sólida entre os setores privados e acadêmicos.

Nesse item, as dificuldades também ainda são grandes, apesar de um certo avanço registrado, ainda lento, nos últimos tempos.

“A inovação, para a empresa, não é um fim em si mesmo. Ela faz isso para maximizar o capital para os acionistas. Inovação não é invenção, é algo que é criado, desenvolvido e usado. O ciclo apenas fica completo quando o produto ou serviço é consumido. Achar que alguém vai lá na prateleira pegar uma tecnologia, como era imaginado antigamente, é acreditar em Papai Noel”, diz Sbragia.

Segundo o pesquisador, em uma visão macroscópica, para passar de um sistema imaturo, como o brasileiro, para um maduro, é preciso que os atores pensem dentro de uma mesma lógica.

“No Brasil há muita ciência e muita tecnologia, mas elas não estão atreladas às demandas reais. São sistemas mais de ciência e tecnologia e menos de inovação. O que falta é exatamente essa ligação. Os países que estão na fronteira tecnológica fazem exatamente isso. Nós, infelizmente, estamos muito longe dessa realidade”, diz.


Data: 02/06/2006