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Proteína da gardênia pode virar droga contra diabetes

Um trabalho unindo biologia molecular avançada e medicina tradicional chinesa resultou em uma descoberta que pode render uma droga contra o diabetes tipo 2

Pesquisadores da Escola Médica de Harvard, nos EUA, e da Universidade de Nanquim, na China, encontraram em frutos da planta da gardênia uma proteína que promove a produção de insulina.

A genipina, molécula encontrada no vegetal, atua bloqueando a enzima UCP2, que normalmente inibe a atividade das chamadas células beta, as produtoras de insulina no pâncreas.

A falta desse hormônio é o que causa excesso de glicose no sangue e outros sintomas de diabetes.

A proteína foi testada com sucesso em células pancreáticas cultivadas em laboratório e já despertou o interesse de laboratórios de companhias farmacêuticas.

Segundo os pesquisadores de Harvard, antes de alguém investir em testes com animais e humanos, é preciso provar a segurança da molécula.

A genipina tem propriedades químicas que ainda precisam ser estudadas, mas as perspectivas são boas.

"Bolamos alguns testes para ver se essas propriedades eram requisitos para a droga inibir a UCP2 e descobrimos que elas não são necessárias, o que é bom", disse à Folha Bradford Lowell, líder da pesquisa em Harvard.

"Isso significa que poderiam ser feitas versões mais específicas da genipina contendo apenas as propriedades desejadas para tratar diabetes”.

Lowell conta que, para isolar a molécula, a ajuda do grupo de Chen-Yu Zhang, um especialista em medicina tradicional chinesa, foi fundamental.

Para encontrar uma droga com propriedades desejadas, pesquisadores de empresas farmacêuticas normalmente fazem ensaios clínicos in vitro automatizados com incontáveis compostos até encontrar aquele com a propriedade desejada. Lowell, porém, não teve como usar uma abordagem tão direta.

Ajuda da China

Uma vez que, além de encontrar a propriedade desejada, Lowel queria também saber se a proteína atuava por meio da inibição de UCP2, era preciso fazer um ensaio clínico paralelo.

Para isso foram usados camundongos geneticamente alterados para não produzir UCP2, mas o estudo acabou ficando complicado demais.

"Dada a natureza desse ensaio, não teríamos como testar milhares e milhares de compostos, então decidimos fazer uma varredura em um número menor de extratos vindos de fontes naturais", conta Lowell.

“Aí que Zhang entrou no nosso trabalho, com seu conhecimento de medicina tradicional chinesa. Ele obteve alguns extratos de diferentes fontes e começamos os trabalhos.”

A genipina foi isolada de uma variedade oriental da gardênia, a Gardenia jasminoides, uma das cerca de 250 espécies descritas do vegetal.

Apesar de ter descoberto um composto promissor para tratar diabetes tipo 2, Lowell procurava primeiramente uma droga para fins científicos.

"Somos um laboratório de pesquisa básica, não uma empresa farmacêutica", diz. A genipina deve se tornar uma ferramenta útil para estudar o funcionamento das mitocôndrias, organelas celulares responsáveis por processar energia.

Lowell e Zhang descrevem o achado na edição atual do periódico científico "Cell Metabolism".


Data: 08/06/2006