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Inovação e crescimento sustentado - Artigo

“A cada ano que passa, ficamos mais atrás na corrida internacional pelas patentes, mesmo em comparação com os países considerados, como nós, emergentes”

Natalia Paim e Roberto Nicolsky - respectivamente, assessora e diretor Geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).

 

O Brasil tem comemorado nos últimos anos alguns bons resultados em sua balança comercial, mas outros indicadores importantes relacionados ao crescimento econômico mostram que essa festa pode acabar cedo.

Nos últimos dez anos, caímos do 4º para o 22º lugar no ranking de produtividade industrial da Confederação Nacional da Indústria, a pior posição desde a segunda metade da década de 80 – a chamada “década perdida”.

No ano passado, caímos seis posições no ranking do Fórum Econômico Mundial que mede a capacidade dos países de usar a tecnologia da informação para melhorar sua competitividade: estamos em 52º lugar, atrás da China, Índia, África do Sul e Chile.

A cada ano que passa, ficamos mais atrás na corrida internacional pelas patentes, mesmo em comparação com os países considerados, como nós, emergentes. Além da Coréia e Taiwan, que desde a década passada vêm brilhando nessa competição, mais recentemente estamos sendo atropelados também pela China e pela Índia.

Não é por acaso que o crescimento do PIB brasileiro em 2005 foi pífio, não somente em relação à média mundial (4,3%) como também à dos países emergentes (6,4%) e até da América Latina (4,3%).

Nosso magro crescimento de 2,3% só foi superior, no continente, ao do paupérrimo Haiti. Este é o resultado de uma longa sucessão de governos preocupados apenas com o curto prazo, com superávits comerciais imediatos, e insensíveis em relação a políticas sustentadas de desenvolvimento industrial e de apoio à inovação tecnológica na empresa.

O barato de hoje pode sair muito caro amanhã, pois na sociedade do conhecimento não basta que as indústrias disponham de meios de produção para ter acesso a mercados.

Elas precisam também, e principalmente, ter a propriedade intelectual daquilo que produzem. Os países asiáticos que mais crescem no mundo já perceberam isso e nos últimos anos vêm galgando rapidamente posições no ranking mundial de patentes.

Basta conferir as estatísticas do escritório norte-americano de patentes – o USPTO – para constatar os resultados da firme estratégia dos emergentes asiáticos na área da propriedade intelectual.

No período entre 1980 e 2004, houve uma queda no crescimento do número de patentes concedidas aos países do G7 – EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão – com exceção deste último país.

Por outro lado, entrou em franca ascensão o crescimento do número de patentes concedidas a países em desenvolvimento. Em 1980 o Brasil estava praticamente igualado aos emergentes asiáticos na corrida das patentes. Tivemos 28 patentes concedidas no USPTO, número exatamente igual ao da China, enquanto a Coréia teve 65, Taiwan 8 e Índia 4.

Em 2004, Taiwan e Coréia já haviam disparado, destacando-se como grandes patenteadores mundiais (4º e 5º lugar, respectivamente, no ranking do USPTO), a China obteve a concessão de 715 patentes, a Índia 363, e o Brasil, na lanterna, teve apenas 106 patentes concedidas.

E o ritmo de crescimento da China é vertiginoso: só em 2005, o país depositou 2.452 pedidos de patentes na Organização Mundial de Propriedade Intelectual.

É importante assinalar que nem toda patente corresponde a uma invenção. Ao contrário, a grande maioria decorre de pequenas inovações realizadas em equipamentos e processos já consagrados.

Esse conceito da inovação discreta porém contínua, sistemática, otimizado há meio século pelo Japão do pós-guerra, hoje comprova sua força nos resultados econômicos dos países emergentes asiáticos.

Ele foi expresso de maneira simples e precisa pelo principal ideólogo do desenvolvimento tecnológico da Coréia, Linsu Kim, autor do livro “Da imitação à inovação”, traduzido e publicado pela Editora Unicamp em 2005.

O autor afirma que, enquanto nos países desenvolvidos o padrão de desenvolvimento tecnológico consiste em “aprender pesquisando”, por meio de articulações entre empresas, Universidades e institutos de pesquisa, nos países em desenvolvimento, ao contrário, o caminho é “aprender fazendo” e praticar a engenharia reversa (desmontar o equipamento adquirido para aprender a construí-lo incorporando inovações).

Mesmo quando se elege o emprego como prioridade maior, como tentou fazer o governo Lula, relegar a inovação tecnológica na empresa a uma posição secundária conduz a maus resultados.

Foi o que comprovou o ranking da CNI, ao constatar que o crescimento do emprego na indústria (4,2% em 2005), por não vir acompanhado de crescimento equivalente da produção, levou à queda de produtividade e, conseqüentemente, da competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Inovação tecnológica na indústria gera emprego.

Estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que o grupo de empresas que mais inovam no Brasil aumentou em 29% seus postos de trabalho entre os anos 2000 e 2004, contra 19% correspondentes à média do setor industrial.

Isto porque a empresa inovadora cresce mais, contribuindo de forma sustentada para o desenvolvimento econômico e social.


Data: 08/06/2006