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Governo argentino prepara plano contra gripe aviária

A doença, que já causou 127 mortes desde 2003, foi tema de discussão na 2ª Reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade, em Buenos Aires

O plano argentino, que está sendo elaborado por um grupo de trabalho do Ministério da Saúde e Meio Ambiente, tem foco na prevenção, a exemplo da iniciativa do governo brasileiro, que, entre outras ações, anunciou em março o investimento de R$ 3 milhões, por meio do MCT, para a capacitação de profissionais e para pesquisas voltadas ao desenvolvimento de uma vacina, a cargo do Instituto Butantã.

Também estão previstas ações de detecção precoce de casos em aves e humanos, a provisão de vacinas e medicamentos antivirais e o fortalecimento da capacidade de atendimento em hospitais e centros de saúde.

O risco de uma pandemia da gripe aviária existe, mas felizmente depende ainda de uma série de fatores, como mostrou Elsa Baumeister, pesquisadora do Centro Nacional de Influenza da OMS e do Instituto Malbrán. Entre eles, uma transmissão entre humanos eficiente e o surgimento de uma nova cepa de vírus com susceptibilidade da população.

Elsa explicou, com base na estrutura do vírus da Influenza A, tipo relacionado à gripe aviária, como se dá a disseminação da doença. Segundo ela, o vírus tem uma alta capacidade de se reassociar e produzir novos tipos devido a seu genoma, segmentado em oito porções.

As aves aquáticas são as hospedeiras do vírus Influenza A, e podem infectar outras aves, mamíferos e o homem. A preocupação é com possibilidade do vírus se adaptar a outros hospedeiros, evento que, embora esporádico, pode gerar uma pandemia da doença.

Existe ainda preocupação com a disseminação da doença por aves migratórias. Felizmente, a América do Sul conta com um mecanismo de proteção natural contra o ingresso do vírus H5N1, afirmou João Menegheti, do Instituto de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Nossos sistemas migratórios são independentes, e as aves da América do Sul são predominantemente playeras, não se registram infecções nestas espécies”, explicou.

Além disso, as aves aquáticas do Cone Sul são sedentárias ou migram para distancias curtas, com exceção de uma espécie de pato que ocasionalmente vem da América do Norte e aporta em nosso litoral.

¨Mas mesmo que haja uma infecção de aves no Ártico, a possibilidade de contágio por esta espécie é precária¨, entende Menegheti.

O sistema de criação de aves praticado no Brasil, Argentina e Uruguai, com alto grau de industrialização, também dificulta a contaminação.

Mas é preciso atentar para as brechas nesse mecanismo de proteção, ponderou Menegheti. Espécies com rotas migratórias transoceânicas, como o gaivotim ártico; outras que cruzam os oceanos transportadas pelo vento ou por correntes marinhas; e aves de presença ocasional, provenientes da Europa, Ásia e África podem contribuir para o ingresso do vírus na região.

Mas não há motivo para sobressaltos, assegura Menegheti. ¨Há pouca evidência de que aves migratórias sejam disseminadoras da forma mais letal do vírus influenza H5N1. E os caminhos de dispersão do vírus e as rotas migratórias das aves silvestres não coincidem¨.

O pesquisador alerta ainda que espantar as aves silvestres é um meio ineficaz e perigoso de mitigar o contato com elas, já que pode provocar uma mudança nos hábitos dessas aves e a dispersão da doença fora das rotas originais. E salienta que a pobreza e condições sanitárias insuficientes estão diretamente associados a transmissão da gripe aviária.


Data: 08/06/2006