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Cardíacos submetidos à meditação nos EUA tiveram redução na pressão sangüínea, afirma estudo

Hipótese é que meditação module resposta do sistema nervoso ao estresse; grupo ressalta que técnica não substitui cuidados médicos

A meditação transcendental faz bem ao coração que sofre. Muita gente não acredita, por duvidar de tudo que venha de Maharishi Mahesh Yogi, ex-guru dos Beatles envolvido no passado em denúncias de sexo com suas fiéis.

Mas quem diz, agora, é a sexta revista médica mais influente do mundo, a "Archives of Internal Medicine" (archinte.amaassn.org).

A maioria dos médicos e cientistas tende a encarar terapias alternativas como charlatanice. Mas alguns cardiologistas mantêm a mente aberta, sem descuidar da medicina baseada em evidências.

Cathleen Merz é um deles. Pesquisadora do Centro Médico Cedars-Sinai e professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Estados Unidos, ela não parece preocupada com o risco para sua reputação.

Informa que não teve dificuldade para publicar seu estudo. "Archives" foi o primeiro periódico procurado e aceitou de pronto o artigo. Não é todo dia que um periódico científico de grande impacto publica estudos sobre medicina alternativa.

"Somos investigadores estabelecidos em testes clínicos fisiológicos, [o estudo] foi patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde e usamos metodologia rigorosa em todos os nossos estudos clínicos", tranqüiliza a médica, que não pratica a meditação transcendental (MT). "É importante assinalar que estudamos o benefício incremental da MT além dos cuidados médicos de praxe."

Seu grupo foi um dos que estabeleceram o vínculo entre problemas nas artérias coronárias e o estresse, mas não vinha obtendo bons resultados com medicamentos para controlá-lo.

Decidiu então testar a chamada "técnica padronizada de administração do estresse". No caso, a MT, codificada e ministrada por discípulos Maharishi no mundo todo, desde 1957.

Não-praticantes

Os 84 participantes do estudo tinham doença coronariana prévia e eram pacientes do Cedars-Sinai. Foram divididos em dois grupos: um recebeu aulas de MT durante 16 semanas, o outro, palestras sobre vida saudável de mesma duração.

A instrução de MT foi coordenada por três pesquisadores da Universidade Maharishi de Administração, em Iowa (EUA), os únicos dos oito co-autores que praticavam meditação.

"Ninguém da equipe primária de investigação pratica a MT. Nós consultamos um grupo de MT por serem especialistas na intervenção, mas eles não se envolveram na condução do estudo nem na análise dos dados", esclarece Maura Paul-Labrador, a primeira autora do estudo.

O grupo aleatoriamente designado para a MT apresentou melhoras estatisticamente significativas em dois fatores de risco, na comparação com o grupo de controle: pressão sangüínea e resistência à insulina (quando o corpo não responde bem a esse hormônio regulador da taxa de açúcar no sangue).

Ao lado do colesterol alto e da circunferência da cintura, são elementos do diagnóstico da síndrome metabólica que afeta um quarto da população dos EUA e aumenta suas chances de morrer do coração.

A hipótese do grupo de Merz é que a meditação module a resposta do sistema nervoso ao estresse da vida contemporânea, uma bateria de sinais enviados ao corpo que compõe a chamada ativação neuro-humoral.

Ela pode conduzir a uma série de problemas crônicos, como inflamações, que aumentam o risco de uma falha fatal do coração.

"O ensino de MT é altamente padronizado, de modo que o treinamento de mais de 50 participantes nos três anos de estudo foi consistente ao longo do tempo", explica Labrador.

No passado, as alegações de efeitos cientificamente comprováveis da MT deram origem a uma controvérsia acalorada, com acusações de fraude e preconceito. Mas Merz avisa que já está estudando a possibilidade de pedir financiamento para fazer um estudo maior ainda.

Na internet - Leia mais sobre a polêmica em torno da MT en.wikipedia.org/wiki/Transcendental-meditation.


Data: 14/06/2006