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Plano prevê Internet rápida nas escolas

Idéia é pôr computador conectado por banda larga em cada um dos 173 mil estabelecimentos de ensino fundamental e médio do país

O governo federal pretende colocar um computador ligado à internet por banda larga em cada uma das 173 mil escolas de ensino fundamental e médio no país, sejam urbanas ou rurais, nos próximos cinco anos, a partir de 2007.

O projeto vai custar R$ 600 milhões por ano para levar não apenas os equipamentos, mas algum tipo de conexão de internet para todos os 5.560 municípios do país.

Hoje, 43% das cidades brasileiras não têm nenhum tipo de internet a não ser por meio de linha discada - e muitas apenas com conexão interurbana.

O dinheiro não será exatamente o problema. Ainda no governo Fernando Henrique foi criado o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), um imposto de 2% sobre o valor das contas de telefone, tirado da receita das empresas de telefonia, para ser usado na informatização das escolas.

Até o ano passado, o Fust tinha mais de R$ 3 bilhões parados porque o governo - o atual e o passado - não conseguiu chegar a uma conclusão sobre qual seria a melhor forma de usá-lo. A receita anual do Fust está hoje, de acordo com o governo, em R$ 600 milhões anuais.

"A lei hoje exige que os recursos sejam usados para computadores e internet discada. Vamos mexer nisso para permitir a aplicação nessa nova proposta. É completamente viável", garantiu o ministro da Educação, Fernando Haddad.

A arrecadação anual do Fust, explica o ministro, seria suficiente para comprar e instalar os computadores nas 173 mil escolas do país nos primeiros cinco anos. Depois disso, o custo - apenas para manutenção - cairia.

Colocar computadores em todas as escolas não é exatamente uma idéia nova. Começou no governo FHC, com a criação do ProInfo, no Ministério da Educação.

A idéia, então, era colocar computadores nas escolas e, onde houvesse telefone, internet. Mas apenas nas escolas de ensino médio e com um determinado número de alunos. Também seriam feitos núcleos de informática nos municípios para treinar professores.

A idéia caminhou a passos de tartaruga desde então. A primeira impressão é de que a questão se resume apenas a recursos e dificuldades burocráticas de implantação.

Mas não é só isso que falta para informatizar as escolas. Em muitos casos, o problema é muito mais básico.

Os últimos dados do Ministério da Educação, de 2003, mostram que 34,6 mil escolas de ensino fundamental - 23,1% do total - não têm nem mesmo energia elétrica.

No ensino médio, são quase 7 mil entre 23 mil escolas sem luz. Soa estranho levar sistemas de internet a locais que não conseguem nem mesmo ter uma geladeira para guardar a merenda escolar.

Das 173 mil escolas de ensino fundamental e médio do País, 50,9 mil têm apenas uma sala de aula e 16,8 mil não têm nem mesmo um banheiro. Além disso, pouco mais de 20 mil têm laboratórios de informática e cerca de 22,6 mil contam com acesso à internet - isso porque muitas dispõem de laboratórios para os alunos sem conexão, mas a possuem nas secretarias e diretorias.

E essas são, normalmente, em áreas urbanas, de fácil acesso e nas Regiões Sul e Sudeste. Pesquisa com especialistas estimulou idéia de levar computadores ao ensino.

A idéia de colocar um computador com banda larga em cada escola do país surgiu de uma pesquisa feita com mais de 2 mil especialistas, a pedido do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) do governo federal.

A pesquisa, feita para apurar os problemas estratégicos que o país deve superar para crescer, apontou a qualidade na educação como o principal deles e um dos mais difíceis de resolver.

Segundo o secretário-executivo do NAE, Raul Sturari, a pesquisa perguntou quais os problemas atuais do Brasil que impactarão o futuro do país.

A pesquisa, feita com acadêmicos, professores e dirigentes de ONGs, indicou 50 pontos. Os dois primeiros foram melhorar a qualidade do ensino e universalizar o acesso ao ensino básico.

Após eles vieram a redução da criminalidade e da desigualdade social, o aumento do nível de emprego e a consolidação de um sistema universal de saúde.

A pesquisa fez duas perguntas - quais os temas importantes e qual a probabilidade de metas nessas áreas serem cumpridas até 2022.

Com a mesma convicção com que apontaram a educação como problema-chave, os entrevistados revelaram descrença de que os governos consigam avançar na área.

A melhoria de qualidade da educação é, segundo os pesquisados, a quinta meta com menor chance de ser atingida até 2022.

A diminuição da criminalidade é, para eles, a terceira meta com menor chance de ser alcançada; a redução da desigualdade social é a quarta mais improvável.

O público-alvo da pesquisa apontou a manutenção da normalidade constitucional e democrática como a mais provável de ser atingida.

Uma segunda pesquisa, feita na Internet, listou 15 pontos a serem desenvolvidos para melhorar a qualidade da educação. Dos 15, o governo selecionou quatro como prioridade 1.

O primeiro deles é a formação de professores; o segundo, a inclusão digital; e o terceiro, a gestão escolar democrática - partilhar a gestão das escolas com pais e interessados.

O mesmo deverá ser feito com os demais 50 temas, mas as consultas ainda não começaram: apenas na área de novas alternativas de combustível estão sendo preparados os questionários.


Data: 20/06/2006