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Educação e responsabilidade social - Artigo

A grande novidade nas ações de responsabilidade social das empresas são iniciativas para melhorar a qualidade de políticas governamentais

Paulo Renato Souza - Economista, foi ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso, gerente de operações do BID, reitor da Unicamp e secretário de Educação de SP no governo Montoro.

 

Nos dias 22 a 24 de junho, mais de uma centena de expressivas lideranças empresariais do Brasil e da América Latina reúnem-se na Bahia com ministros, acadêmicos e representantes de ONGs para discutir como melhorar os sistemas de educação básica pública na região.

Mais importante, querem fixar diretrizes e assumir compromissos concretos a partir da análise de experiências que já demonstraram ser eficazes.

Hoje há uma grande insatisfação, no mundo todo, com os sistemas educacionais em relação aos desafios da sociedade do conhecimento. As lideranças políticas e empresariais expressam suas preocupações com freqüência e força cada vez maiores.

A situação educacional da América Latina é das mais críticas no mundo, especialmente na qualidade da educação pública, e apresenta algumas características comuns que permitem uma abordagem comparativa e fixação de objetivos semelhantes.

A novidade da conferência não está no diagnóstico ou na definição de metas para a região, mas por ser organizada pelo setor privado. É um reflexo regional da crescente consciência de que o Estado sozinho não é capaz de resolver esses graves problemas num período curto de tempo.

Muitas lideranças empresariais têm mostrado enorme sensibilidade, sublinhando claramente a importância de um esforço nacional para melhorar a cobertura e a qualidade da educação em seus respectivos países e têm procurado uma forma concreta de atuação nas ações de responsabilidade social.

Historicamente, as ações de responsabilidade social do setor privado têm adotado várias modalidades e graus diversos de abrangência em seus métodos e objetivos.

A responsabilidade social pode se traduzir em ações internas das empresas em relação a seus colaboradores ou extrapolar seus muros, atingindo a comunidade que a cerca, ou, numa perspectiva mais ampla, atender a determinados segmentos da sociedade.

Nesse último caso, no passado eram comuns as ações meramente filantrópicas que procuravam lidar com situações individuais de carência e iniciativas de cooperação com entidades específicas.

A grande novidade nas ações de responsabilidade social das empresas, no entanto, são as iniciativas para melhorar a qualidade dos serviços públicos e das políticas governamentais, atuando em parceria com os governos. Parte-se da constatação de que o poder público é capaz de cuidar do acesso aos serviços sociais, mas tem dificuldade para promover a melhoria da sua qualidade.

Por outro lado, a grande maioria das empresas que hoje desenvolvem ações de responsabilidade social concentra seus esforços na área da educação. As ações do setor privado nesses casos podem incluir a instituição de prêmios para melhores práticas, a difusão de experiências que tiveram êxito na educação ou o desenvolvimento de programas especiais de leitura, de treinamento de professores ou de diretores de escolas na gestão para o sucesso escolar.

Dessa maneira, é possível ter uma influência geral no conjunto dos sistemas públicos de ensino, deixando de estar limitado a uma escola ou a um grupo de escolas.

Os resultados concretos de muitas dessas experiências de pareceria do setor privado com o setor público para melhorar a educação nos países latino-americanos são muito expressivos e assinalam um possível caminho para a efetividade nas ações de responsabilidade social das empresas.

A presente conferência, organizada e patrocinada pela Fundação Lemann e o Instituto Gerdau, do Brasil, e pela Fundação Jacobs, da Suíça, e que contou com a cooperação do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina) na mobilização empresarial, busca justamente extrair lições que possam ser generalizadas para todos os países da região.

Sua organização se iniciou com a identificação de casos de melhores práticas de ações de responsabilidade social por meio de parcerias para melhorar a educação pública na América Latina. Esse levantamento mostrou claramente que o Brasil e a Colômbia concentram muitos dos exemplos de ações mais significativas e eficazes.

Justamente em função dessa mobilização e história, os empresários brasileiros e os colombianos estão buscando novas formas de influir mais ativamente nos rumos da educação nos seus respectivos países. Estabelecer compromissos, fixar metas e avaliar a efetividade da ação empresarial na educação são precisamente os objetivos maiores da conferência.


Data: 20/06/2006