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Melhores escolas públicas do país estão no interior, conclui avaliação

Prova Brasil, primeira avaliação universal do MEC, mostra que o ensino continua ruim na 4.ª e na 8.ª série

A primeira avaliação nacional feita em todas as escolas de ensino fundamental do País mostrou que a melhor educação está no interior. Das 10 escolas com melhor desempenho na 4ª série, apenas uma está em uma capital, no Rio.

No Estado de São Paulo, não há nenhuma escola da capital entre as melhores, tanto na 4ª série quanto na 8ª série. As capitais só entram na lista das escolas de 8ª série, e graças a escolas federais.

Os dados são da chamada Prova Brasil, novo exame organizado pelo Ministério da Educação (MEC) e que foi feito em 41 mil das 43 mil escolas de ensino fundamental do País, com participação de 3,3 milhões de alunos. Até agora, havia apenas exames feitos por amostragem do ensino básico fundamental brasileiro.

Os resultados foram apresentados ontem e mostraram que a situação das escolas no País continua ruim. Apesar de uma melhora na média das crianças de 4ª série, as notas indicam que a maior parte delas termina esse ano escolar sabendo pouco mais do que interpretar textos curtos e fazer operações simples.

As da 8ª série conhecem apenas o que seria ideal para um aluno da 4ª: interpretar textos, fazer relações, interpretar gráficos simples, fazer as quatro operações.

Em português, na 4ª série, 45% das escolas tiveram notas maiores que a média nacional, de 172,9 pontos.

Em matemática, foram 44,4% além da média de 180 pontos. Na 8ª série, em português, 48% das escolas ficaram acima da média de 222,6 pontos. Em matemática, foram 46,6% além dos 237,5 pontos nacionais.

O desempenho das melhores escolas do País, no entanto, fica bem acima do rendimento nacional pífio. São poucas, mas mostram que, pelo menos em alguns locais, é possível esperar que alunos de escolas públicas tenham os resultados adequados para as suas séries.

Das 10 melhores escolas de 4ª série do País, todas tiveram médias, nas duas disciplinas, muito superiores às médias nacionais dos alunos de 8ª série, que tem quatro anos de escolaridade a mais.

O MEC não tem uma explicação para a concentração de boas escolas no interior do País. Até hoje, o Sistema de Avaliação de Ensino Básico (Saeb), que era feito a cada dois anos, não permitia fazer essa divisão porque não havia resultados por escolas.

"Há menos alunos nas salas de aula e a comunidade participa, os pais opinam, os professores conhecem o aluno pelo nome", acredita Alexandre Luiz Martins de Freitas, secretário de Educação de Matão, no interior de São Paulo, que teve as melhores notas do Estado.

Para o secretário estadual de Educação do Rio, Arnaldo Niskier, o motivo da prevalência do interior é outro. "Eu sei que essa afirmação vai me causar problemas, mas eu assumo. Com menos atrativos no interior, os alunos se dedicam mais aos estudos" , diz.

O MEC pretende que, tendo acesso a seus resultados, cada escola se compare com as vizinhas e as tenham como parâmetro para melhorar. A meta nacional, segundo o ministro Fernando Haddad, é que o País melhore cerca de oito pontos na média das turmas de 4ª série a cada ano.

"Se quisermos estar entre os países intermediários nas avaliações internacionais, com um desempenho satisfatório, temos que cumprir essa meta".

As melhores

Em São Paulo, segundo o MEC, não há notas específicas para cada escola estadual porque a Secretaria de Educação paulista não permitiu que todos os alunos fizessem a prova devido ao tamanho da rede.

No Rio, a melhor turma de 4ª série em português do País fica na cidade de Trajano de Morais, região serrana do Rio.

Concursos de redação e uma biblioteca, montada pela Secretaria de Estado de Educação, são as ferramentas dos professores do Ciep Prof.ª Guiomar Gonçalves Neves para combater o chamado analfabetismo funcional.

"Procuramos incentivar os alunos com concursos de redação e damos ênfase à recuperação paralela, em que as dificuldades dos alunos são identificadas", diz o diretor Elielton Riguetti. Apenas 1,2% da população da cidade tem mais de 15 anos de estudo, segundo o Censo 2000, mas os professores da escola têm ensino superior.

Os alunos aprendem matemática com auxílio do material dourado, blocos de madeira que representam unidades, dezenas e centenas. "A criança trabalha o concreto, ela visualiza a matemática", explica Riguetti.

A escola, que tem 421 alunos de 1ª a 8ª série e curso de formação de professores, também ficou em segundo lugar em matemática no Prova Brasil.

O Colégio Estadual Januário Toledo de Pizza, em São Sebastião do Alto, foi o primeiro colocado em matemática e teve o segundo melhor desempenho em português. "O segredo é o trabalho dos professores", disse a diretora, Meire Amaral.

Os 481 alunos são divididos em turmas de até 30 crianças. De 1ª a 4ª série, a maior turma tem 19 alunos. Com classes menores, os professores conseguem dar atenção mais individualizada aos estudantes.

Matão, a grande surpresa de SP

A melhor escola do Estado fica no interior do interior

Estradas de terra vermelha levam os alunos à Escola Municipal Helena Bosetti, quase na zona rural de Matão, a 300 quilômetros de São Paulo.

As salas são amplas, há horta do lado de fora e uma cozinha experimental em construção. São poucos alunos por sala; 23 na 4.ª série que participou da Prova Brasil no ano passado.

O número é considerado adequado por educadores e é menor do que o encontrado na capital.

O Estado visitou a escola neste ano. A prefeitura tem investido nela; além da cozinha, estão sendo feitos laboratórios de ciências, de informática e uma biblioteca. Há transporte público para todos os alunos; o ônibus vai chacoalhando e as crianças, cantando.

Para o secretário de Educação de Matão, Alexandre Luiz Martins de Freitas, o sucesso da escola se deve à valorização da comunidade. Muitos pais lutaram para que ela continuasse funcionando, depois que o Estado a transferiu para Prefeitura há alguns anos.

Por ficar longe de tudo, havia gente que preferia mandar seus filhos para escolas da cidade. Hoje, ela atende cerca de 300 alunos.


Data: 03/07/2006