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Laboratório de testes para a TV digital

Concessão para que Unesp gere sinais de TV em formato digitalizado é passo importante para que a universidade dê seqüência a um ambicioso projeto de desenvolvimento e aplicação da tecnologia

Com a revolução digital cada vez mais perto dos televisores no país, especialistas apontam que o papel da comunidade acadêmica não é apenas criar condições para que o novo sistema possa funcionar do ponto de vista técnico.

"Sem dúvida, nosso projeto é muito mais amplo do que isso", afirma Antonio Carlos de Jesus, diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, e coordenador do projeto TV Unesp - Sistema Digital.

Com a concessão dada pelo governo federal no fim do mês passado para poder gerar sinais de TV no formato digitalizado, novos caminhos estão abertos.

Segundo Jesus, em um ano e meio a TV Unesp digital deverá estar pronta. A geração inicial será feita a partir de Bauru, no interior de São Paulo. Posteriormente, outras repetidoras, em vários pontos do estado, farão parte do circuito.

"Os testes iniciais serão feitos com cem comunidades, que ainda serão escolhidas. Estamos falando desde uma creche até um grupo de idosos. A intenção é atingir todos os segmentos da sociedade", explica o pesquisador da Unesp.

Com a infra-estrutura e os aspectos técnicos em pleno funcionamento, outros projetos crescerão em importância.

De acordo com Jesus, não chega a ser exagero afirmar que os telespectadores atuais terão que ser quase que ensinados a ver a nova televisão, que deverá estar totalmente inserida na sociedade brasileira em dez anos.

"Será como ocorreu com a chegada do computador. Não tivemos que aprender a usar também esse equipamento?", disse.

Entre as várias áreas que serão integradas no canal de TV digital e aberto da Unesp - todo o conteúdo experimental a ser transmitido será educativo - estão também as das ciências humanas.

"Um dos estudos importantes é o da estética da televisão digital. Assim como os receptores sofreram um grande impacto quando a televisão em cores substituiu a em preto e branco, o mesmo ocorrerá agora", afirma.

O modo de fazer programas em termos de conteúdo - de montar, por exemplo, uma notícia jornalística para o novo sistema - também será estudado por grupos de pesquisas da Unesp.

Diante dessa nova realidade, e da concessão dada pelo governo, a universidade se prepara para dar início a dois novos tipos de modelo de formação de recursos humanos, processos que também terão que ser bastante estimulados, segundo Jesus, por intercâmbios acadêmicos com o exterior.

"Além da parte técnica e de infra-estrutura em si, a formação de pessoas para trabalhar com essa nova realidade também é um ponto fundamental. Vamos fazer isso pelo sistema tradicional, nos cursos de graduação e de pós, mas também por meio de convênios com as emissoras de televisão comercial, que serão as grandes usuárias do novo sistema. Nesse caso, vamos colaborar com a reciclagem dos recursos humanos", adianta Jesus.

O pesquisador, que no fim dos anos 1990 participou da implementação das redes de rádio e de televisão em Moçambique - infra-estrutura preparada para o modelo digital -, acredita que, no Brasil, o prazo de dez anos poderá até ser encurtado em alguns casos.

"Claro que um dos pontos mais importantes do sistema digital é a possibilidade da interatividade. Essa será uma área totalmente nova", disse Jesus. Mas, mesmo por isso, as emissoras terão que implementar as inovações gradualmente.

"Imagine um especial qualquer gravado há dez anos. Ele terá agora que ser adaptado. Mas, por mais que isso ocorra, esse programa não terá a mesma interatividade dos programas gravados pelo sistema digital", explica.

Na cerimônia de assinatura do decreto que decidiu pela concessão do sistema de TV digital à Unesp, no último dia 28, estiveram presentes o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o reitor da universidade, Marcos Macari. Segundo Macari, o projeto todo, para ser implantado, custará R$ 22 milhões.


Data: 06/07/2006