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Dióxido de carbono aumenta acidez de oceanos e ameaça corais

70% dos recifes estão em risco ou danificados, alguns irremediavelmente

O nível cada vez mais alto de dióxido de carbono na atmosfera está tornando a água dos oceanos mais ácida, dizem cientistas. Eles advertem que, no final do século, essa tendência poderá dizimar os recifes de coral e todas as criaturas que encontram alimento no mar.

Segundo a Coral Reef Task Force (Força-Tarefa de Recifes de Corais), dos EUA, 70% dos recifes do mundo estão ameaçados e 20% não podem mais ser recuperados. Cientistas e políticos apenas começaram a se concentrar na questão da acidificação dos oceanos e já perceberam que se trata de uma das mais impressionantes ameaças ambientais.

"Foi uma bomba-relógio que explodiu na comunidade científica e, mais recentemente, na política pública", disse o deputado republicano Jay Inslee, que em maio convocou uma sessão para exposição do assunto, com cinco outros membros da Câmara.

"É mais um exemplo de que, quando se lançam gigatons de dióxido de carbono na atmosfera, os resultados são totalmente inesperados."

Thomas Lovejoy, presidente do Centro para Ciência, Economia e Meio Ambiente H. John Heinz II, reformulou seu livro para dar mais ênfase à ameaça da acidificação dos oceanos.

"É a maior mudança ambiental que chegou ao meu conhecimento em toda a minha carreira", diz ele.

Uma coalizão de cientistas universitários e daqueles a serviço de agências do governo americano deve divulgar um relatório detalhando os riscos embutidos no processo.

As emissões de dióxido de carbono "alteraram dramaticamente a química do oceano, colocando em risco corais e outros organismos marinhos que secretam estruturas esqueléticas", antecipa um comunicado conjunto do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica e da Agência Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica.

Vantagem virou problema

Por décadas, os cientistas consideraram a absorção do dióxido de carbono pelos oceanos uma vantagem ambiental porque atenuava os efeitos do aquecimento global.

Porém, ao absorver um terço do dióxido de carbono da atmosfera - em grande parte gerado por escapamentos de carros, usinas elétricas e indústrias - o pH (indicador para medição de acidez) dos oceanos estão sendo alterado.

O nível de pH, medido em unidades, é um cálculo do equilíbrio entre acidez e alcalinidade de um líquido. Quanto menor o nível de pH em um líquido, maior sua acidez; quanto maior o pH, maior sua alcalinidade.

O nível de pH dos oceanos estava estável entre 1.000 e 1.800, mas caiu um décimo de unidade a partir da Revolução Industrial, segundo Christopher Langon, professor de biologia marinha na Universidade de Miami.

Os cientistas esperam mais uma queda de 0,3 unidade nos níveis de pH dos oceanos até 2100, o que poderá prejudicar seriamente as criaturas marinhas que necessitam de carbonato de cálcio para formar os esqueletos e conchas.

Uma vez absorvido pela água do mar, o dióxido de carbono se transforma em ácido carbônico, que reduz o pH dos oceanos, tornando mais difícil para corais, plânctons e os minúsculos caracóis marinhos (chamados pterópodes) formarem sua estrutura.

Ken Caldeira, oceanógrafo da Universidade de Stanford, que participou da exposição para os deputados juntamente com o ecologista marinho Joan Kleypas, disse que os oceanos estão com nível maior de acidez do que o mantido "durante muitos milhões de anos".

"O que fizermos na próxima década afetará nossos oceanos por milhões de anos", disse Caldeira. "Os níveis de CO2 estão aumentando extremamente rápido e esmagando nossos sistemas marinhos".

Algumas pessoas têm questionado as previsões de aquecimento global baseadas em programas de computador, mas a acidificação do oceano é menos controversa porque envolve química básica.


Data: 06/07/2006