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Reunião Anual da SBPC: Semeando a interdisciplinaridade para entender as mudanças climáticas

Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), afirma que construir uma ponte mais firme entre as diversas áreas do conhecimento, sobretudo entre as ciências naturais e sociais, é o caminho para se entender melhor as mudanças ambientais globais

Em palestra proferida nesta segunda-feira, na Reunião Anual, Carlos Nobre mostrou alguns resultados dos projetos desenvolvidos no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia, LBA), uma iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil.

O objetivo do programa, que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros em 102 projetos, é entender, sob uma perspectiva regional, como funcionam os ciclos da água, energia solar, carbono, gases e nutrientes da Amazônia.

Outra questão fundamental do LBA é estudar o impacto das mudanças nos usos da terra e do clima nos sistemas biológico, químico e físico amazônicos, incluindo sua influência no clima global.

Alguns modelos climáticos com os quais os pesquisadores estão trabalhando sugerem que os impactos das atividades humanas sobre a floresta amazônica podem resultar no colapso de grande porção da mesma e perda significativa da biodiversidade no intervalo de 50 a 100 anos.

Estudo baseado em seis modelos projeta anomalias de temperatura e precipitação na região amazônica para 2070-2099 como conseqüência das altas emissões de gases de efeito estufa. De acordo com uma média feita entre os dados dos seis modelos, a temperatura média na região amazônica aumentaria de 3 a 6% até o final do século e o índice de precipitação tenderia a diminuir de 0,5 a 2 milímetros por dia.

Nobre mostrou que isto teria impacto direto na biodiversidade amazônica, acarretando a inviabilidade de 43% de 69 espécies de árvores da região, que não conseguiriam se adaptar às novas condições climáticas em tão pouco tempo.

"Esta é uma simulação radical", disse Nobre. "Mas é uma possibilidade que não pode ser descartada".

Se, de um lado, os resultados das projeções indicam um panorama negativo, as iniciativas do LBA, de outro, têm gerado frutos positivos para o país.

O programa, em atividade desde 1998, reúne mais de 1.000 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais; já tendo gerado 283 dissertações de mestrado e doutorado e 1.123 publicações científicas, das quais 72% com participação brasileira.

"Demos um salto quantitativo e qualitativo na visibilidade da ciência nacional e interdisciplinar", afirmou.

Nobre, no entanto, aponta a falta de maior interação com as ciências sociais uma das grandes dificuldades do programa e, de maneira mais geral, da pesquisa científica brasileira que pretende ser multidisciplinar.

"Esta é uma lacuna. Temos que construir uma ponte mais firme entre estas duas pontas."

Uma outra dificuldade apontada pelo pesquisador do Inpe é a falta de investimento, a longo prazo, para uma política consistente para a Amazônia.

"Deve haver pressão da comunidade científica por recursos estáveis para a Amazônia", reivindicou, dizendo que o montante dos fundos setoriais direcionados à região ainda é muito pouco.


Data: 18/07/2006