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Reunião Anual da SBPC: A TV digital pode levar à inclusão social no Brasil?

Cientistas devem se envolver na implantação dessa nova tecnologia, afirmam especialistas

A TV digital vai enfim permitir a democratização da informação no Brasil. Com ferramentas de interatividade, cursos de educação a distância e canais locais e educativos, a nova televisão vai promover a diversidade cultural, valorizar a língua portuguesa e levar à sonhada inclusão social.

Esse cenário pode parecer utópico, mas é o objetivo do governo ao regulamentar a implantação dessa nova tecnologia. Sua consolidação efetiva depende sobretudo da mobilização da sociedade e da comunidade científica nos próximos anos, como manifestaram especialistas em um simpósio sobre os impactos sociais e tecnológicos da TV digital no Brasil, realizado durante a reunião anual da SBPC.

No último dia 30 de junho, um passo importante foi dado rumo à implantação dessa tecnologia no Brasil, com a assinatura do decreto presidencial que define a tecnologia que o país adotará nos próximos anos – o sistema japonês, escolhido em detrimento dos sistemas europeu e norte-americano, também avaliados pelo governo, com o auxílio de especialistas de universidades e do setor privado.

"O principal avanço foi o fato de que as contribuições dos cientistas brasileiros foram apresentadas para o governo e o governo recomendou aos industriais incorporá-las", avalia Sérgio Bampi, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e moderador do simpósio.

"Os empresários acharam as propostas muito importantes, mas ainda não viabilizaram seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento para tornar uma realidade o desenvolvimento tecnológico nacional. O Brasil ainda tem muito a fazer nessa área, estamos só engatinhando."

Preocupação social pioneira

A consolidação da TV digital no Brasil deve durar pelo menos dez anos, prazo estipulado para a interrupção definitiva das transmissões feitas com tecnologia analógica, uma vez iniciada a fase de transmissão digital. A novidade chegará primeiro a São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes capitais, e será progressivamente implantada no resto do país, num processo que deve durar sete anos.

Essas previsões foram apresentadas por Augusto Gadelha, do MCT, que resumiu as principais decisões do decreto assinado pelo presidente Lula em junho. Gadelha frisou que as opções do governo levaram em conta, para além das características técnicas da tecnologia escolhida, a questão da democratização da informação. "O Brasil é pioneiro ao pensar a televisão digital como veículo de mudanças sociais", afirmou.

Mas há ainda muito a se fazer para que isso se concretize. "Vai ser necessária uma regulação bastante forte feita pelo governo e uma firmeza dos órgãos reguladores e da sociedade civil para garantir que a TV digital tenha sua atuação dentro dos marcos que se prevê o decreto", avalia Sérgio Bampi. "Mas há muitas questões muito importantes não regulamentadas.";

Algumas dessas questões foram destacadas por Marcelo Zuffo, pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), que ressaltou a importância da participação da comunidade científica na fiscalização desse processo de regulamentação. Segundo ele, se aspectos importantes "como o sistema de dados" não forem implementados de forma conveniente, não será possível pensar nos benefícios sociais da TV digital, como a geração de empregos e riqueza.

Zuffo lembrou que este é apenas o início das discussões (";estamos nos 6 minutos do primeiro tempo", comparou) e ressaltou a importância deste momento. "Os próximos seis meses serão fundamentais", acredita. "Se der errado, faremos teses e discutiremos nas próximas reuniões anuais da SBPC por que a TV digital deu errado no Brasil."


Data: 18/07/2006