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Reunião Anual da SBPC: A filósofa é pop

Pensadora Marilena Chauí reúne multidão, fala sobre filme Matrix, tira fotos com fãs e evita assuntos políticos

O número de pessoas que queria vê-la era maior que o reunido pelas mais de dez autoridades na noite anterior, durante a abertura da 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Em sua meteórica passagem pelo campus da instituição, a filósofa Marilena Chauí lotou o mesmo Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, e atraiu a atenção daqueles que se espremiam pelos corredores laterais, bem como dos que ocupavam todas as 1,3 mil cadeiras do espaço.

Na fala, explanações teóricas e históricas do conceito de utopia, tema da palestra. Tida como uma das pensadoras máximas do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi uma das fundadoras, Marilena evitou temas como governo e política. Preferiu discorrer sobre um fenômeno pop do final dos anos 1990: o primeiro filme da trilogia Matrix.

Real e virtual - Sobre a produção dos irmãos Wachowski, a convidada chamou a atenção para os diversos elementos da mitologia e cultura grega usados ao longo da trama, como o personagem Morfeu (deus dos sonhos) ou a presença do oráculo. "O impasse apresentado é entre o real e o virtual, a essência e a aparência", aponta a pensadora.

Não foram permitidas perguntas. A palestra Utopia estava prevista para acontecer de meio-dia às 13h e seria seguida por outra atividade no mesmo local. Mesmo assim, após dos aplausos finais, o palco foi invadido por dezenas de participantes, todos atrás de um autógrafo em blocos de anotações ou livros da filósofa ou mesmo uma foto ao lado da pensadora. ";Sou fã mesmo, já utilizei vários livros dela em sala de aula", disse Maria Silva, professora do ensino médio na cidade baiana de Pindaí.

Utopia

O termo surgiu a partir do lançamento da obra literária homônima do inglês Thomas More (1478-1535). Em grego, topos significa lugar, local. Já o prefixo U designa negação. Assim, utopia seria um não-lugar. Mas é possível a interpretação que ela vem de eutopos, ou lugar feliz, e é justamente disso que trata a obra de More: uma cidade ideal, insular, na qual a razão humana domina completamente a natureza.

Passando para a aplicação do termo nos dias atuais, Marilena Chauí diz que a utopia busca o fim das fronteiras simbólicas - exemplificou com o conceito de interdisciplinaridade - e total transparência. "A utopia não morreu. A utopia é um projeto de vida";, finalizou a filósofa, sob forte salva de palmas.


Data: 18/07/2006