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“60% dos gays e lésbicas sofrem violência"

Peter Fry falou na Reunião Anual da SBPC sobre o paradoxo que vive o homossexual

Os homossexuais são as pessoas que mais sofrem violência no Brasil, segundo Peter Fry. Em pesquisas realizadas pelo antropólogo Sérgio Carrara, que não pôde comparecer ao simpósio mas foi citado por Fry, observa-se que mais de 60% dos entrevistados dizem sofrer agressão e discriminação.

Destes, 33,5% apontam como agressores amigos e vizinhos, 27% para o ambiente familiar, 26,8% são agredidos nas escolas ou em faculdades e 20,6% em ambiente religioso.

A Parada Gay é um movimento que leva às ruas uma das maiores concentrações de pessoas, deixando para trás o movimento feminista. Lá se encontra uma explosão de identidades e uma mistura de grupos sexualmente diferentes.

"Isso é um paradoxo. Temos um movimento homossexual que produz manifestações de massa que incorporam gente de toda a orientação sexual", diz Peter Fry. E mesmo assim eles continuam sendo vítimas de discriminação e agressões.

Em pesquisa feita recentemente em escolas de segundo grau no RJ, a cientista social Yvonne Maggie verificou que há mais casos de discriminação por orientação sexual que por "raça".

Peter Fry ressaltou que esse é um preconceito amplo e irrestrito, sobretudo apoiado pelas igrejas, o que impede a extensão dos direitos sexuais a todos.

Homoparentalidade

Miriam Grossi, presidente da Associação Brasileira de Antropologia e professora da UFSC, questionou a forma do antropólogo pensar a homossexualidade e como não confundir os valores de um e de outro lado (a antropologia e a homossexualidade). Ela afirma que "é na família que se tem o maior grau de preconceito".

Na França, onde a antropóloga concentra grande parte de sua pesquisa, ela diz que nascem cerca de 200 mil crianças, filhos de mães lésbicas.

Os homossexuais usam ao menos cinco possibilidades para formarem uma família; uma delas é o "uso" de três pessoas para fazê-lo, as duas mulheres e um homem, que pode até ser o irmão de uma das parceiras. No Brasil a forma mais presente é a adoção.

De acordo com Miriam, os homossexuais querem ter direito à reprodução. No caso de duas mulheres homossexuais - uma negra, outra branca -, elas preferem adotar uma criança negra, já que a intenção é a "homoparentalidade", termo adotado para explicar a paternidade e a maternidade.

Segundo pesquisas feitas por Miriam Grossi, quando gays e lésbicas têm filhos são melhores aceitos e deixam de ser discriminados, principalmente na família.

A luta nas paradas gays da França, onde um milhão de pessoas vão às ruas, é pelo direito à reprodução. Já no Brasil, a luta central trata sobre a homofobia.

"No Brasil você está deixando de falar de indivíduos e começando a falar de membros de grupos", finaliza a antropóloga.


Data: 19/07/2006