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Quem vai pagar pela inovação brasileira?

Ozires Silva, engenheiro e coronel da Aeronáutica, fala na Reunião Anual da SBPC sobre os entraves e dificuldades de se inovar no Brasil

Toda vez que o assunto é inovação, a Embraer é citada como exemplo de que é possível inovar mesmo quando o ambiente está longe de ser ideal. Fundada em 1969, a Empresa Brasileira de Aeronáutica é uma das maiores companhias exportadoras do país.

Por trás do sucesso está o engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, Ozires Silva, que liderou a fundação da empresa e deu início à produção industrial de aviões no Brasil. Nesta quarta-feira, em simpósio na Reunião Anual, ele falou sobre o êxito da Embraer e sobre os desafios de se inovar no Brasil.

Para o engenheiro, as imposições feitas pelos dirigentes da Estatal ao governo, de gerar produtos próprios com tecnologia própria e ter o controle das vendas, foram determinantes para o seu posicionamento no mercado.

Apesar das conquistas da empresa, Ozires apontou uma série de entraves que emperram a inovação brasileira. Uma delas é o emaranhado jurídico brasileiro. "A burocracia brasileira bate todos os recordes", disse ele. Enquanto em um país desenvolvido uma empresa é criada em um dia, no Brasil, leva 150, exemplificou.

Além disso, o país não criou formas de cobrir os custos dos investimentos para transformar o conhecimento científico e tecnológico em produtos novos. "A legislação brasileira não permite que se empreste dinheiro correndo risco", disse.

Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, o poder de compra dos governos tem se constituído em importante alavanca para o desenvolvimento econômico. No entanto, o governo brasileiro não utiliza esta ferramenta para estimular e impulsionar a inovação no país.

Fica então a questão: "Quem vai pagar pela inovação brasileira?", indagou.

Os empresários preferem não arriscar e Ozires dá-lhes razão. "O risco de empreender é tão grande que não dá para correr este risco. Eles preferem comprar fora", afirmou.

Por estas e outras razões, o Brasil está fora do sistema, excluído no processo de globalização. Para reverter este quadro, Ozires afirma que o país precisa desenvolver, com urgência, um projeto de nação. "Temos que forjar um novo futuro bem diferente do passado."

Mesmo com todas as dificuldades, o engenheiro é otimista: "Temos tudo para tirar o Brasil do vermelho".


Data: 20/07/2006