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Instituto Internacional de Neurociências de Natal: cada vez menos sonho e mais realidade

Idealizador do projeto, o neurocientista Miguel Nicolelis proferiu palestra nesta quinta-feira na Reunião Anual da SBPC, na UFSC

O cientista, que desenvolve suas pesquisas no Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, EUA, contou que dois laboratórios do Instituto Internacional de Neurociências de Natal já estão em operação e quatro estão sendo reformados. Além disso, a escola criada pelo instituto já conta com 20 crianças de seu entorno e, segundo Nicolelis, não param de chegar mais interessadas.

Para chegar a este ponto, Nicolelis conta que correu atrás de investimentos públicos e privados. Do governo brasileiro, ele recebeu até hoje R$ 4,5 milhões, de três ministérios: C&T, Saúde e Educação. Com a iniciativa privada nacional, um dos acordos fechados foi com Hospital Sírio-Libanês, que patrocinou as ações sociais do instituto por três anos; mas isto ainda é pouco perto do que ele espera.

“Se Deus for brasileiro, e dizem que ele é, nós vamos ter a liberação de mais R$ 7 milhões do governo”. Mas sem depender do governo e de Deus, ele adiantou que espera fechar um novo acordo internacional nas próximas semanas que, segundo ele, “aumentará enormemente e rapidamente as atividades do Instituto”.

Este novo acordo internacional se somaria a outros já feitos, como os com a Universidade de Duke e a Escola Politécnica Federal de Lausanne, citou Nicolelis. “O dinheiro que conseguimos no Brasil é uma fração do que nós levantamos. Nós tivemos aportes internacionais para a pesquisa de 2 milhões de dólares. São contratos de pesquisa e nós estamos negociando vários outros, porque o centro já é reconhecido, com as tecnologias que estamos trazendo, como com potencial de realização de pesquisas que até antes não poderiam ser feitas no país”.

Ele conta que da Universidade na qual trabalha recebeu 200 mil dólares em equipamentos novos, que estão para chegar no país. Quando os equipamentos chegarem, deve ser inaugurado o biotério do Instituto, diz.

Outros passos, conta ele, é que “nós já fizemos a licitação do primeiro módulo do centro de saúde, que começará a ser construído em poucos dias. Na próxima semana nós finalizaremos a licitação para a construção do primeiro módulo da escola, e do primeiro módulo de pesquisa em Macaíba”.

Por enquanto, os laboratórios estão instalados na cidade de Natal. O projeto total de Nicolelis envolve a construção de um parque tecnológico, “nos moldes do que a Embraer conseguiu fazer”; um centro materno-infantil de saúde mental; museu de ciência; parque ecológico; centro esportivo de reabilitação e uma escola em tempo integral. No futuro, o objetivo é que os estudantes recebam bolsas da instituição.

Em recursos humanos, sem incluir os técnicos, o Instituto já conta com 11 pesquisadores, entre mestres, doutores e pós-doutores.

Popularização

A palestra foi dividida entre dois trabalhos liderados por Nicolelis: o Instituto e as pesquisas em neuroengenharia.

Sobre este segundo ponto, ele explicou os estudos de sua equipe que trazem a esperança de que um dia seja possível, a partir da leitura de sinais cerebrais, projetar uma interface homem-máquina, que devolva o movimento a pessoas que tiveram a medula lesada ou mal de Parkinson, por exemplo.

Ele mostrou que com macacos foi possível criar essa interface. Em seu laboratório, a macaca Aurora conseguiu mover um braço robótico apenas com a força de seu pensamento.

O movimento foi possível com o desenvolvimento de um chip que capta sinais cerebrais e os interpreta segundo modelos matemáticos desenvolvidos pelos próprios pesquisadores do laboratório de Nicolelis. Com o prosseguimento deste estudo, o grupo de Nicolelis chegou à conclusão de que os primatas reconhecem o braço robótico como uma extensão de seu corpo.

A partir disso, o pesquisador acha possível que, no futuro, possam ser implantados chips em pacientes que perderam o movimento dos braços e pernas. Estes chips interpretariam a vontade do paciente e fariam com que roupas mecânicas o movessem. Outra aplicação seria em pacientes com mal de Parkinson. 


Data: 21/07/2006