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Novas propostas para o "Brasil na Era dos Satélites"

Contribuições de especialistas vieram enriquecer a lista de propostas levantadas durante o Encontro Aberto realizado na 58ª Reunião Anual da SBPC em Florianópolis

O Encontro Aberto (nova modalidade inaugurada nesta Reunião Anual da SBPC) tratou de responder a três questões: o que o Brasil já fez na Era dos Satélites? O que está fazendo? E o que precisa fazer daqui para frente?

Participaram do evento, que se prolongou por nada menos de quatro horas na quarta-feira, dia 19/7:

Marco Antonio Chamon, coordenador de Gestão Tecnológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe);
César Celeste Ghizoni, diretor-presidente da empresa Equatorial Sistemas;
Celso Melo (parcialmente), professor de Física e pró-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Maurício Meira, executivo da Geoconsult;
José Raimundo Coelho, ex-gerente brasileiro do Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Naturais (Cbers); e
Jurandir Zullo Jr., professor e pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp
José Monserrat Filho (coordenador), editor do "Jornal da Ciência" e vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA).

Valiosa participação externa

Marcos Guimarães Castello Branco (castello@cpqd.com.br), pesquisador do CPqD, que trabalha na Gerência de Soluções de Redes de Telecomunicações (DRT) nos enviou essa mensagem:

"Tomei conhecimento deste encontro ocorrido através do site do 'JC e-mail' onde consta também um espaço para novas sugestões.

Uma vez que, além das aplicações científicas, os satélites de comunicações têm sido tema de trabalhos de várias instituições brasileiras, dentre elas o CPqD, Anatel e PUC-RJ, por si só, ou através da CBC9 (Comissão Brasileira de Estudos 9 de Radiocomunicações) , tomo a liberdade de redigir algumas sugestões de propostas complementares:

1. Propor ao Governo federal que leve adiante o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), sob a coordenação da AEB e/ou do CTA, que trará enormes benefícios tecnológicos e de aplicações aos diversos setores estratégicos e de segurança do país, envolvendo diversas instituições de pesquisa e desenvolvimento nacionais e órgãos públicos;

2. Incentivar o maior envolvimento dos pesquisadores do setor de espacial brasileiro e fabricantes nacionais nas atividades da CBC9 (Comissão Brasileira de Estudos 9 de Radiocomunicações) coordenada pela Anatel, que dentre os temas de estudo encontram-se os Serviços Fixo e Móveis por Satélite e os Serviços Científicos Espaciais."

Por sua vez, João Braga, astrofísico, vice-diretor Geral e coordenador de Gestão Científica do Inpe, principal pesquisador do projeto de satélite científico Mirax, nos remeteu esse e-mail:

"Vi com tristeza e decepção que nos 12 pontos levantados na discussão sobre 'O Brasil na Era dos Satélites' na Reunião da SBPC, nenhum deles refere-se ao desenvolvimento de satélites científicos.

Devo lembrar que em todos os países com programa espacial consolidado e também nos países onde o programa espacial tem aproximadamente a idade do programa brasileiro (Índia e China), o desenvolvimento de um programa forte de satélites científicos é considerado estratégico e fundamental.

O Brasil, no entanto, está perdendo o bonde da história e parece só se preocupar com satélites de aplicações.

O papel da ciência básica como 'driver' para missões espaciais, gerando novos conhecimentos e novas tecnologias, parece não ser compreendido pelos principais atores do nosso programa espacial.

A geração de conhecimento em todas as áreas é fator essencial no caminho da soberania das nações; a área espacial, em especial, é sumamente estratégica e não pode ficar de fora, sob pena do nosso programa ficar sempre dependente de tecnologias estrangeiras.

Fico também decepcionado ao ver que, numa discussão ampla dentro da SBPC, nenhum cientista da área espacial tenha sido convidado para os debates.

Lembro ainda que a destinação de cerca de 10% dos recursos hoje destinados a satélites de aplicações seria suficiente para financiar um programa de satélites científicos compatível com o que se espera de um país como o nosso."

Já respondemos ao João Braga que sua proposta será incorporada à lista, segundo a orientação que assumimos previamente e que ficou claro na notícia publicada aqui no "JC e-mail" de 20/7.

Quanto ao fato de não termos convidado uma pessoa da área de ciências espaciais, foi, de fato, uma falha nossa, que certamente não se repetirá.

Mas é justo informar que questões de pesquisa científica espacial foram abordadas no nosso encontro aberto com a devida importância que essa atividade merece.

O que faltou, realmente, foi fazer constar um item a respeito na lista das propostas. Erro agora reparado graças à oportuna crítica do João Braga.

Laerte Sodré Jr., pesquisador do Depto. de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, também nos mandou uma mensagem, que aqui transcrevemos:

"Parabéns (...) pela elaboração de uma lista de propostas cuja implantação contribuiria para fazer decolar nosso programa espacial.

Gostaria de sugerir um ponto que, embora acredite que esteja implícito na lista que vocês fizeram, merece ser ressaltado: a necessidade de se buscar maior envolvimento das Universidades brasileiras em nosso programa espacial.

Embora o grosso da produção científica brasileira seja produzido nas Universidades, o numero delas ou de pesquisadores a elas associados que desenvolvem pesquisas associadas as atividades espaciais é irrisório quando comparado com o que acontece fora daqui. Isso me parece outro empecilho que precisa ser removido."

Agradecemos as observações de Marcos Guimarães Castello Branco, João Braga e Laerte Sodré Jr., e reproduzimos a seguir a lista de sugestões feitas do nosso encontro aberto, agora ampliada com as novas idéias:

O Brasil na Era dos Satélites: propostas concretas para aplicação imediata

1) Fortalecer o Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Naturais da Terra (Cbers), que já lançou dois satélites (Cbers 1 e 2) e deve lançar mais três (Cbers 2B, 3 e 4), para que ele alcance resultados ainda mais positivos do que os já logrados;

2) Ampliar ao máximo a política de distribuição de imagens, beneficiando Universidades, Centros de Pesquisa, Prefeituras, empresas etc.;

3) Manter o país atualizado em tecnologia espacial;

4) Incentivar em escala ainda maior a formação de recursos humanos especializados na área espacial (a idade média do pessoal da área hoje está em torno de 50 anos e a renovação dos quadros se dá em ritmo muito lento);

5) Incorporar novas gerações de pesquisadores em ciência e tecnologia espacial;


6) Promover maior participação das Universidades brasileiras no programa espacial brasileiro;

7) Disponibilizar imagens do Cbers com revisitas mais freqüentes;

8) Pensar num projeto de satélite meteorológico como seqüência da linha dos Satélites de Coleta de Dados (SCD-1 e 2);

9) Definir melhor os objetivos da Política Espacial brasileira;

10) Focalizar o programa brasileiro de satélites nas necessidades dos usuários, especialmente nas áreas da agricultura, comunicação e planejamento territorial e de monitoramento de recursos naturais;

11) Ganhar acesso aos mercados internacionais; nunca esquecer que a cooperação com outros países e suas empresas é cada vez mais fundamental no mundo de hoje;

12) Propor ao governo que procure criar uma organização capaz de coordenar as compras das instituições públicas em matéria de serviços e produtos de geoinformação, tendo em vista uma distribuição mais adequada desses serviços e produtos tanto para uso das próprias entidades governamentais como eventualmente para o público em geral;

13) Substituir o sensor Modis, com vida útil prevista até 2009, por um satélite brasileiro de observação da Terra (com resolução de 20-30m), indispensável ao trabalho de acompanhar em tempo real o desmatamento da Amazônia e também com grande utilidade para a agricultura; para concretizar tal projeto já existem condições técnicas e também, na prática, o orçamento necessário.

14) Levar adiante o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), sob a coordenação da AEB e/ou do CTA, que trará enormes benefícios tecnológicos e de aplicações aos diversos setores estratégicos e de segurança do país, envolvendo diversas instituições de pesquisa e desenvolvimento nacionais e órgãos públicos;

15) Incentivar o maior envolvimento dos pesquisadores do setor de espacial brasileiro e fabricantes nacionais nas atividades da CBC9 (Comissão Brasileira de Estudos 9 de Radiocomunicações) coordenada pela Anatel, que dentre os temas de estudo encontram-se os Serviços Fixo e Móveis por Satélite e os Serviços Científicos Espaciais;

16) Desenvolver um programa de satélites científicos, tendo em vista o papel da ciência básica como 'driver' para missões espaciais, gerando novos conhecimentos e novas tecnologias.


Data: 24/07/2006