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Reunião Anual da SBPC: Taxonomia futurista

Especialistas de diversos países discutem os desafios para que o Brasil possa conhecer melhor a sua flora. Uma das saídas seria incorporar rapidamente as novas ferramentas tecnológicas disponíveis

Em qualquer trabalho taxonômico, por mais óbvio que possa parecer, é fundamental que, além da coleta no campo, seja elaborada uma lista bastante precisa com os nomes das plantas encontradas, quer sejam espécies conhecidas ou não.

O problema é que, diante da crise de perda de biodiversidade registrada em todo o mundo, apenas esse trabalho não é mais suficiente.

"As técnicas modernas de análise, que permitem, por exemplo, agrupar determinados grupos e perceber como eles estão se distribuindo ao longo do tempo, em uma savana ou em uma floresta, por exemplo, é fundamental para a elaboração de qualquer política de conservação eficiente", disse Lucia Lohmann, professora da Universidade de SP, à Agência Fapesp.

Abordagens do tipo são feitas a partir de cálculos matemáticos desenvolvidos especialmente para esses fins.

Lucia, que usa essas técnicas em suas pesquisas, foi uma das especialistas em taxonomia botânica presentes ao "Simpósio Revisão da Flora Brasileira: Desafios e Oportunidades", encerrado na sexta-feira (21/7), em Florianópolis.

Estiveram reunidos durante o evento 40 dos principais estudiosos mundiais no assunto. Lúcia fez parte do comitê científico do simpósio, organizado em conjunto pela Fapesp, pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

"Uma lista é importante, claro, mas hoje sabemos que apenas isso não basta", disse a pesquisadora. Durante o simpósio, um dos principais objetivos foi discutir formas eficientes para que toda a flora brasileira possa ser avaliada.

O trabalho, sob qualquer aspecto, será bastante árduo. Antes de mais nada por conta do reduzido número de taxonomistas disponível atualmente, como lembrou George Sheperd, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade Estadual de Campinas. Em seguida, porque, diante das dificuldades, é muito importante definir uma única direção.

"Precisamos ter certeza do que realmente queremos fazer", disse Sheperd. Outra dificuldade - e por isso a presença de muitos pesquisadores internacionais no simpósio - é geográfica. Há espécies brasileiras hoje presentes apenas em herbários na América do Norte ou na Europa. E, sem a colaboração dos diretores desses espaços, pouca coisa poderá ser feita.

Também por causa das tecnologias modernas, nenhuma checagem das listas de espécies existentes hoje pode ser feita sem um grande banco de dados, digitalizado e disponível na internet.

Por conta isso, outro desafio metodológico será repetir com a flora brasileira o que já foi feito, também com apoio da Fapesp, com o Flora Brasiliensis On-line. O projeto trouxe para a internet parte da Flora Brasiliensis, obra do naturalista alemão Carl von Martius (1794-1868), indispensável para os biólogos e disponível até então apenas em poucas cópias guardadas por bibliotecas.

"A atualização da flora brasileira é um trabalho que já está em curso. Mas, agora, nossa expectativa é que possamos passar a fazer isso em uma escala bem maior", disse Vanderlei Canhos, do Cria.

Se depender do interesse de pesquisadores como Peter Raven, do Jardim Botânico do Missouri, nos Estados Unidos, e um dos maiores nomes da botânica mundial, o processo prosseguirá com força. "As idéias apresentadas aqui são importantes. A base, claro, é a montagem de uma boa lista de espécies", disse Raven.

A comunidade brasileira, representada pelos principais dirigentes da Sociedade Brasileira de Botânica, também está se reunindo ao redor dessa idéia comum, explica Canhos. "Vamos trabalhar todos juntos. Os objetivos são os mesmos dos vários grupos", afirmou.


Data: 24/07/2006