topo_cabecalho
Banco Mundial investe US$ 12 milhões em Universidades privadas

É a primeira vez que Bird faz isso no país; o argumento é que o investimento dá retorno, além de abrir vagas para faixas de baixa renda

O Banco Mundial (Bird) acaba de investir US$ 12 milhões no ensino superior privado brasileiro. A transação ocorreu por meio de um fundo criado pelo Banco Pátria, em 2005, que busca cotas ou ações à venda na área de educação.

A primeira operação foi adquirir 70% do controle acionário da Anhanguera Educacional, um conglomerado do interior do Estado de SP com mais de 20 mil alunos em quatro faculdades e um centro universitário.

A instituição receberá o dinheiro do Bird e de outros investidores do fundo.

Essa foi a primeira vez em que o Banco Mundial direcionou recursos para Universidades particulares do Brasil. O negócio foi efetuado pelo braço privado da entidade, o International Finance Corporation (IFC).

O Bird foi fundado em 1944 para ajudar no desenvolvimento de países pobres. “É um investimento que dá retorno e ainda oferece acesso ao ensino superior para população de baixa renda”, disse o responsável pela área de Educação e Saúde do IFC, Alexandre Oliveira.

“À medida que o Brasil se estabiliza, essa se torna uma área atrativa.”

Antes do Brasil, o IFC investiu em educação privada do México, Chile, Turquia e Nigéria, entre outros.

A entidade foi apresentada à Anhanguera Educacional no início do ano, quando um dos proprietários da instituição, Antonio Carbonari Neto, esteve em Washington.

“Para expandir, precisávamos de recursos”, diz ele, que mostrou à entidade uma empresa cujo crescimento anual passava de 40% na última década – em número de alunos, professores e faturamento.

“Nossos currículos são enxutos, a empresa é bem administrada e conseguimos oferecer mensalidades baixas”, completa Carbonari.

Um curso de Veterinária, por exemplo, na Anhanguera custa R$ 599 por mês, menos da metade do cobrado pela maioria das instituições.

“Quem investir no fundo, vai ganhar muito com a valorização das ações”, garante ele, que, com o outro antigo sócio, tem agora apenas 30% do controle da empresa.

Dos cinco diretores do grupo, um é representante do fundo, mas, segundo Carbonari, não interfere nas questões acadêmicas. “Ele só cuida da expansão.” O plano é chegar a 25 cidades até 2010.

Fábrica de sabonetes

“Isso é extremamente perigoso”, diz Eunice Durham, especialista em educação superior da USP.

Para ela, a transação se assemelha ao que foi discutido recentemente na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a transformação da educação em serviço. Essa idéia não teve aprovação do governo brasileiro, mas é cada vez mais difundida no mundo.

“Compra-se a universidade como se se estivesse comprando uma fábrica de sabonetes”, completa Regina Vinhaes Grancindo, educadora da UnB e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE).

“A grande questão é que o ensino superior deixa de ser entendido como direito e passa a ser entendido como mercadoria.”

Para ela, a conseqüência da compra de ações de universidades pelo mundo pode ser a formação de grandes conglomerados nacionais e internacionais que controlariam o ensino.

Capital estrangeiro

A operação com a Anhanguera toca em outra questão discutida recentemente pelo Ministério da Educação (MEC): o capital estrangeiro em universidades brasileiras.

O projeto de lei do governo de reforma universitária prevê que só 30% do capital da instituição poderá não ser nacional.

Mas ela ainda não foi aprovada pelo Congresso. Além disso, nem integrantes do Banco Pátria nem do MEC sabem dizer se a operação do Bird configuraria investimento estrangeiro, já que o fundo é brasileiro.

Segundo o sócio-diretor do Banco Pátria, Ricardo Scavazza, o fundo já tem R$ 100 milhões - dinheiro que veio também de pessoas físicas.

“Há empresas em dificuldade no setor, mas também há muitas rentáveis.” Ele adianta que já negocia a compra de ações e cotas de outras universidades, mas não revela nomes.

O Pátria é especializado em gestão de investimentos.


Data: 31/07/2006