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Discurso proferido pelo vice-diretor do , professor Ricardo Cabral de Vasconcelos, durante programação de recepção aos Feras do Período 2006.1, realizada no dia 17 de julho

Saúdo, neste instante, o Magnífico Reitor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Prof. Thompson Fernandes Mariz, em nome de quem saúdo a mesa aqui composta, Autoridades presentes, Representantes dos CCT nos Colegiados Superiores, Coordenadores das Unidades Acadêmicas do CCT, Alunos Novatos, Alunos Veteranos, Minhas Senhoras e Meus Senhores.

 

Não sou circunlóquio, não sou prolixo e muito menos afeito a discursos por não ter o dom da oratória. Provavelmente porque sou engenheiro, aquele que procura resolver as coisas de forma mais rápida, mais simples. Não na simplicidade de quem diz “aproximemos um cavalo por uma esfera”, mas na simplicidade de quem procura soluções sem muitas delongas ou querelas. Por isso procurarei ser breve em minhas palavras, tão breve que poderia deixar de proferi-las, não fosse minha satisfação, grande satisfação de estar aqui na presença de todos vocês, neste momento de grande responsabilidade e, por isso, adredemente preparado.

 

Momento assaz importante. Recepcionar os alunos que chegam à Universidade, que passaram da tensão de uma luta acirrada para a conquista de uma vaga, para um estado de torpor de quem sente a sensação de dever cumprido. É uma alegria poder agora dizer a vocês: parabéns e sejam bem-vindos. Todavia me sinto no desconforto de quem deve tirá-los deste estado e lembrar que o momento também é de trabalho, cautela e perspicácia. Para isso preparamos este dia que dedicamos inteiramente a vocês.

 

Enquanto maturávamos este evento, nós da direção do CCT juntamente com vários outros professores de nosso Centro, uma dúvida me veio à mente. Como chamar vocês? Alunos novatos? Calouros? Feras? Fera pensei, lembra o aluno inexperiente, aquele a quem os veteranos procuram fazer de bobo em seus trotes e isso me remeteu ao tempo em que eu era estudante universitário, quando ainda possuía cabelo, e era magro, quando fiz-me passar por professor em uma turma de feras, para aplicar uma prova no primeiro dia de aula, incentivado que fui pelos colegas que serviram de platéia nas janelas da sala. Passado algum momento de hesitação resolvi chamá-los de feras. Sim feras. É assim que vou chamá-los porque vocês são feras, são vencedores. Basta uma simples vista d’olhos em seus derredores para que percebam que apenas uns poucos daqueles que outrora concorriam com vocês no vestibular se encontram aqui agora. Lembrem-se da concorrência que tiveram de vencer para, tal qual Júlio César, poderem dizer, “Vim, Vi e Venci”.

 

Orgulhem-se disso. Orgulhem-se! Não um orgulho de soberba, mas um orgulho gratificante pelo resultado alcançado, fruto de inúmeras renúncias em prol dos estudos, na certeza de que estão construindo as suas próprias vidas, abraçando com denodo e dedicação o que vossos pais proporcionaram; o impulso inicial adveio deles. Lembrem-se de que somos o que somos e devemos isso aos nossos pais. Saibam que a experiência deles, o labor, a ansiedade, a dedicação, a partilha, a presença ou mesmo a ausência, enfim, cada momento da vida deles foi dedicado a vocês e convergiu para que estivessem aqui hoje. Orgulhem-se disso e honrem-os. Esforcem-se em suas vidas acadêmicas, dediquem-se inteiramente ao curso, para que, ao final, possam olhar fundo nos olhos deles e dizer: estou cumprindo com minhas responsabilidades, serei o esteio em seus outonos. Essa será a forma que vocês terão de demonstrar a gratidão e o reconhecimento por todo o desvelo recebido. Não representa demasia repetir que, afora os méritos de seus pais, vocês estão aqui por seus próprios méritos. Não devem nada a mais ninguém! Foram selecionados para a cota única com que esta Universidade sempre trabalhou: a cota dos melhores alunos, dos melhores classificados. Fazer diferente é discriminar; é transformar a Universidade numa fábrica de diplomas; é tirar dela a possibilidade de escolher dentre os melhores cérebros, as melhores matérias-primas para executar sua missão: a missão de formar os melhores profissionais. Distribuir vagas por cotas é diminuir as vagas de nossos irmãos, de nossos filhos. Matematicamente falando, pedindo licença aos matemáticos aqui presentes, é reduzir o universo da disputa a um conjunto muito menor. É como tirá-la dentre os números reais e jogá-la dentre os números naturais. Olvidar disso é relegar a um plano inferior, é menoscabar a Universidade Brasileira. Vocês estão de parabéns porque são os melhores!

 

Diz um velho adágio popular que se conselho fosse bom não se dava, se vendia. Pois bem. Eu tenho então algumas orientações, dicas, aconselhamentos para vocês que, espero, sejam úteis e lhes sirvam durante todo o período de convivência nessa Universidade.

 

Estou ciente dos arroubos da juventude que vos levam a serem rebeldes. Tudo sabem, não precisam de conselhos, muito menos de ajuda. E “o que é um rebelde? Um homem que diz não”, disse o escritor argelino, Albert Camus. Concordo com ele para a idade de vocês hoje. Contudo, isso é muito pouco para a rebeldia. Sejam conscientes e incisivos na hora do não, mas também na hora do sim. Aprendam com seus erros e com os erros dos outros, o que é mais inteligente. “Lembrem-se de que o segredo da felicidade está na liberdade e o segredo da liberdade está na coragem”, como disse o historiador grego Tucídides.

 

Vocês perceberão dentro em breve que a Universidade é completamente diferente das escolas em que estudaram. Aqui gozarão de uma grande liberdade e diferentes opções de escolha. Saber qual preferir é uma das tarefas mais importantes que vocês têm de fazer e também das mais difíceis. Destas escolhas dependerá todo o sucesso que terão dentro desta Instituição. Apenas um semestre mal sucedido repercutirá ao longo de todo o tempo em que permanecerão na UFCG. “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela” já disse o escritor irlandês George Bernard Shaw. Daí o cuidado que devem tomar na escolha do caminho a seguir. Aqui encontrarão o que chamamos de segmentos. São eles: alunos, funcionários e professores. Deparar-se-ão com os mais variados tipos de pessoas. Encontrarão as risonhas, as carrancudas, as prestativas, as individualistas, as amigas, as gozadoras, as resolutas, as inflexíveis, as bondosas, as arrogantes, as dissimuladas, as humildes, enfim, todo tipo; mas prestem atenção: cada uma delas, a seu modo, estará lhe ensinando algo. Cabe a você a capacidade de discernir e assimilar este ensinamento.

 

Na Universidade vocês, principalmente aqueles cujas famílias não residem aqui, nesta cidade, estarão longe do crivo e do controle dos pais. Oportunidade ímpar para dar vazão a desejos mil. Cuidado! Muito cuidado! Não é demais repetir: apenas um semestre mal sucedido repercutirá ao longo de todo o tempo em que permanecerão aqui. Um exemplo? Nesta primeira matrícula todos os feras tiveram direito às vagas nas disciplinas que precisavam cursar. Esta garantia já não terão numa disciplina em que forem reprovados e serão jogados no turbilhão de uma disputa acirrada que é novamente conseguir vaga para esta disciplina. Lembrem-se também: a repetição em uma disciplina é uma vaga que você está tirando de alguém. Afora isso, o que à primeira vista parece gratuito, de fato é pago e bastante caro. Existe um financiador do ensino público – o governo – através do dinheiro de vocês mesmos, de seus pais, seus familiares, de cada um aqui presente que recolhe impostos. Por isso, assim como nós professores e funcionários, os alunos também têm que zelar pelo patrimônio público que é esta Universidade. De igual modo, têm que ter a contrapartida através da responsabilidade e da dedicação em seus estudos. Não subsiste a história de que “não é meu nem teu”. Ledo engano! É sim meu, teu, de todos nós.

 

Nesta oportunidade de aconselhamento aproveito para frisar que em cada etapa da vida existe um momento certo para vivê-la e que quando atropelamos uma, as demais ficam prejudicadas. Vejam: tudo tem sua hora. Tenho dito a amigos que a beleza da mulher é muito importante, mas devemos ter em mente que num relacionamento duradouro, o que lhe vai pela cabeça importa muito mais. O casal tem que ter cumplicidade, afinar-se muito bem. A beleza não torna isto impossível; quando muito, modifica-nos temporariamente até atingirmos o nosso objetivo ou abusarmos da companhia. Soma-se a isso o fato de que a beleza exterior é efêmera; a da mente permanece conosco, salvo quando atacados pela senilidade. O mesmo pode ser dito pelas mulheres, em relação aos homens. Por isso precavenham-se no momento dos relacionamentos pois não estuda bem quem está preocupado em manter uma família, tendo que conciliar estudo com trabalho e problemas domésticos.

 

Não esperem fazer apenas as grandes coisas. Iniciem pelas pequenas. Caso contrário, correrão o risco de não realizar nada. Grandes coisas nada mais são que a reunião das pequenas, assim como o atual desenvolvimento de nosso mundo se deve ao acúmulo de todo o conhecimento produzido pelo homem desde a idade das cavernas.

 

Esta Universidade não possui um coração de pedra. Bate nela um coração que vibra, que ri, mas também um coração que chora e que se emociona. Haverá de bater com ainda mais intensidade à medida que interagirmos uns com os outros, aceitarmos e convivermos com as diferenças e com contrários. Afinal, somos uma Universidade! Aristóteles, o grande filósofo grego tutor de Alexandre III da Macedônia, o famoso Alexandre, o Grande, procurou incutir em seu pupilo e demais nobres que instruía na escola de Mieza, próximo a Pela, capital do Império, “que tudo e todos eram passíveis de crítica e que garantir uma atmosfera de franqueza era fundamental em Mieza”. Também devemos cultivar esta atmosfera. Afinal, é do debate de idéias divergentes que se pode corrigir erros e traçar novas metas. Tenham em mente que devemos crescer, progredir para nós mesmos, para os que nos cercam e para os que virão depois. Passaremos, porém a UFCG ficará. Ajamos com retidão. “A reputação é como o fogo: uma vez aceso, conserva-se bem, mas se apaga, é difícil acende-lo”, disse Plutarco, filósofo grego.

 

Nesta vida encontrei três tipos de homens; todos muito preocupados... O primeiro está preocupado em fazer o bem a seus semelhantes, construir algo, ajudar aos que lhe rodeiam. O tipo seguinte está preocupado em destruir o que o primeiro faz. A inveja e o ciúme lhe corroem o âmago. Pensa em promover apenas a si mesmo. O terceiro tipo é aquele que está preocupado em nada fazer. Cuida apenas de seu bem-estar e, na medida do possível, no bem-estar daqueles que compõem o seu ciclo íntimo de amizade. Sejamos então homens do primeiro tipo. O mundo está aí, aguardando-nos, mas ouçamos o que disse Mahatma Gandhi, ativista político indiano: “os sete pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho; prazer sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo”. Façamos, pois, um mundo mais humano.

 

Sonhem alto. Já dizia o poeta português Fernando Pessoa: “O homem é do tamanho de seu sonho”. Um homem que não sonha é um homem morto ainda que perambule neste Orbe. Pensem grande! Por acaso vocês já ouviram falar em Alexandre, o Médio? Não esqueçam ainda que mais valor tem um homem que usa a plenitude da força da mente que aquele que usa de apenas a força bruta, pois esta é limitada aos músculos, enquanto aquela vai além dos limites do corpo.

 

Analisem as pessoas principalmente pelo que elas fazem, muito pouco pelo que elas dizem e, de maneira nenhuma, pelo que se diz delas, em especial se falam mal. Lembrem-se do canto da sereia de Odisseu. A voz delicada, doce, macia, pode levar à destruição!

 

Não confiem jamais em alguém que se considera além da opinião de outros, pois é exatamente este que acha a sua opinião a certa; sua decisão é a única correta e, o que é pior, seu ponto de vista varia conforme seus interesses momentâneos, não importando que contradiga sua verdade absoluta de momentos atrás. Dele não se pode esperar a sensatez, tenho dito em alguns momentos.

 

Em nossas oportunidades de escolha não devemos optar pelo “menos ruim”. O “menos ruim” continua sendo ruim e não daremos oportunidade para o melhor aparecer. Procurem ocupar o espaço de vocês. As câmaras e conselhos desta Universidade possuem representação estudantil. Façam-se presentes. Hoje vocês são feras, amanhã, veteranos feras. Não passem procuração. Participem! Ninguém fará o que vocês querem tão bem quanto vocês mesmos!

 

Finalizando, este dia foi preparado para que vocês pudessem receber orientações de como funciona esta Instituição, qual a sua composição, onde estão vocês inseridos e como devem proceder nas necessidades que se lhes apresentarem no transcurso dos anos que passarão aqui.

 

E como último conselho, lhes digo, parafraseando o que disse o cientista americano Benjamim Franklin: “Sejam corteses com todos, sociáveis com muitos, íntimos de poucos, amigos de uns e inimigos de nenhum”, pois assim viverão bem.

 

Sintam-se privilegiados. Este evento representa o primeiro de uma série de muitos que, acredito, advirão. Agradecemos a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização desse evento, em especial, aos professores que contribuíram em sua formatação: Unidade Acadêmica de Física – Professora Daisy Martins de Almeida e Prof. Francisco de Assis Brito; Unidade Acadêmica de Engenharia de Produção – Professores Lívio José da Silva, Windsor Ramos da Silva e Ivanildo Fernandes de Araújo; Unidade Acadêmica de Matemática e Estatística – Professores José Luiz Neto e Alciônio Saldanha de Oliveira; Unidade Acadêmica de Desenho Industrial – Prof. Itamar Ferreira da Silva (Responsável também pelo projeto gráfico do folder que acabaram de receber, juntamente com Daniel Mental pelo mapa) e Prof. Natã Morais de Oliveira; Unidade Acadêmica de Engenharia Mecânica – Professores Erinaldo Clemente dos Santos, Jader Morais Borges, Leonardo Domingos Pereira, Marco Antonio dos Santos e Jônatas de Araújo Lacerda Junior; Unidade Acadêmica de Engenharia Química – Prof. Luiz Gonzaga S. Vasconcelos; Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais – Professores Hélio de Lucena Lira e Reginaldo Severo de Macedo e Professora Crislene Rodrigues da S. Morais. Agradecemos também, a Reitoria da UFCG, suas Pró-Reitorias e Órgãos Suplementares.

 

Agradecemos ainda, para que as atividades de hoje fossem possíveis, a participação de todos os servidores da Diretoria do CCT, em especial a Gutemberg Lacerda Medeiros, Ivanilda Rodrigues da Silva, Jandira Brito, René Anísio da Paz e Roberto Anísio da Paz que estão aqui, hoje, na linha de frente; agradecemos também a participação de todas as Unidades Acadêmicas, em especial a sua Administração Executiva Colegiada. Nossos agradecimentos, pelo apoio prestado, à Livraria Cultura e ao Café Aurora.

 

Pretendemos a cada semestre aprimorar este evento. Queremos assim tornar a vida do estudante menos árdua; contribuir minimizando a retenção e evasão de alunos.

 

Parabéns, sejam bem-vindos e que Deus ilumine a cada um de vocês.

 

Muito Obrigado.

 

Ricardo Cabral de Vasconcelos

Campina Grande, 17 de Julho de 2006


Data: 01/08/2006