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As criadoras do passômetro - Artigo de Fernando Reinach

A conclusão é que o mecanismo de orientação das formigas é capaz de contar os passo e integrar este dado ao da direção em que elas caminharam. Nada mal para o cérebro relativamente simples de uma formiga

Fernando Reinach - Biólogo



As formigas Cataglyphis sempre sabem onde estão. Quando saem para se alimentar, caminham em ziguezague se distanciando do formigueiro. Quando encontram alimento, dão meia-volta, se orientam na direção da entrada do formigueiro e voltam ao buraco em linha reta.

Isso significa que elas sabiam exatamente onde estavam. Nós somos capazes da proeza, mas se tivermos mapa e bússola. Sem eles, a única maneira de voltar ao local de origem é pelo mesmo caminho, fazendo o mesmo ziguezague da ida. Nesse caso, ou nos lembramos do caminho ou deixamos marcas para orientação.

Como as formigas só saem à noite e numa paisagem onde não há dicas visuais, como elas se orientam era um mistério.

Há alguns anos foi descoberto que são capazes de determinar a direção em que caminham utilizando a imagem das estrelas, mas a informação não é suficiente: elas precisam saber a distância que caminharam em cada direção.

Sabendo cada direção do ziguezague e quantos metros caminharam em cada direção é possível calcular a localização exata. Se esse fosse o caso, então as formigas deveriam ter um meio de medir a distância, uma espécie de hodômetro, como de carros. Proposto inicialmente em 1904, agora foi descoberto.

Os cientistas suspeitaram que as formigas determinam a distância contando os passos. Para testar a hipótese, fizeram um experimento simples e engenhoso. Imaginaram que se alterassem o comprimento dos passos das formigas seriam capazes de induzi-las a errar a conta da distância.

Os cientistas então capturaram as formigas assim que elas encontravam o alimento e iniciavam a volta ao formigueiro. No primeiro grupo de formigas, aumentaram o comprimento das patas, colando uma "perna-de-pau" feita com pêlo de porco.

Com passos mais longos, elas erravam a conta e ultrapassavam o buraco do formigueiro. Em outro grupo, os cientistas diminuíam o comprimento das patas. Por causa dos passos curtos, as formigas paravam antes de chegar ao formigueiro.

Finalmente os cientistas colocaram a "perna-de-pau" nas formigas logo que elas saíam do formigueiro. Nesse caso, como elas contavam os passos maiores tanto na ida quanto na volta, o efeito da "perna-de-pau" se anulava e elas eram capazes de voltar com precisão ao formigueiro.

A conclusão é que o mecanismo de orientação das formigas é capaz de contar os passo e integrar este dado ao da direção em que elas caminharam. Nada mal para o cérebro relativamente simples de uma formiga.

Mais informações em The Ant Odometer: Stepping on Stilts and Stumps, na Science, volume 312, página 1.965, de 2006.


Data: 02/08/2006