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Pesquisadores buscam cura para diabetes com cirurgia

Estudo da Unicamp investiga o uso da operação bariátrica em pessoas que não são obesas saúde

Indicada até hoje apenas para a diminuição de peso em pessoas obesas, a cirurgia bariátrica pode ganhar uma nova função: curar o diabetes tipo 2 em pessoas magras.

Um estudo pioneiro sobre a proposta está sendo realizado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"Há relatos de pessoas não obesas que passaram por essa cirurgia no México e em outros países da América do Sul, mas, embora as perspectivas sejam boas, ainda não há nada provado. Esse é o primeiro trabalho científico para verificar isso.

Vamos acompanhar 12 pessoas, das quais 4 já foram operadas", diz José Carlos Pareja, chefe do serviço de cirurgia de obesidade da Unicamp. As conclusões do trabalho devem ser divulgadas até o início de 2007.

A possibilidade de curar o diabetes tipo 2 cirurgicamente será um dos destaques do Best 2006 (Bariatric Endoscopy Surgery Trends), que vai de hoje a sábado, no Rio de Janeiro.

Atualmente, a cirurgia só é indicada para quem tem IMC (índice de massa corpórea) acima de 40. Quem tem IMC acima de 35 pode ser operado se já tiver muitos problemas de saúde devido ao excesso de peso. "Mas quase 60% dos diabéticos não são obesos", diz Pareja.

Segundo Nilton Kawahara, coordenador do setor de laparoscopia na emergência do Hospital das Clínicas e organizador do Best 2006, o interesse no tema surgiu após a constatação de que 80% dos obesos diabéticos voltavam a apresentar índices normais de glicemia após a operação.

A princípio, achava-se que isso era conseqüência do emagrecimento, mas essa explicação não durou muito: os índices ligados à diabetes eram normalizados poucos dias após a cirurgia, antes que houvesse uma perda significativa de peso.

Além disso, a cura é associada a três tipos específicos de cirurgia: o by-pass gastrojejunal e as derivações bilio-pancreáticas (scopinaro e "duodenal switch"). As três criam um "atalho" para a comida, que desvia do duodeno e chega antes à parte final do intestino.

Esse desvio altera a secreção de alguns hormônios intestinais, como o GLP-1, cujo aumento estimula a produção de insulina, explica Kawahara.
O desafio é saber se, em pessoas magras, o mecanismo é o mesmo e a mudança, permanente.

Outra questão é a perda de peso -segundo pesquisas com cobaias magras, é possível fazer o "desvio" sem levar a um emagrecimento significativo.

Enquanto essas perguntas não têm respostas, as principais armas contra o diabetes continuam a ser hábitos saudáveis e medicamentos -área na qual o mais novo foco de atenções também é o GLP-1.

No último congresso da Associação Americana de Diabetes, em junho, foram apresentados inibidores de DPP-4 (enzima que "combate" o GLP-1) e substâncias que, no organismo, simulam a ação do GLP-1.

A previsão é que essa nova geração de remédios chegue ao país até 2007.


Data: 03/08/2006