Aquecimento pode reduzir produção de alimentos - Artigo de Fernando Reinach
Estudo recente sugere que o aumento do CO2 e da temperatura podem causar diminuição da quantidade de alimento produzida no planeta
Fernando Reinach - Biólogo
Desde que começamos a queimar petróleo, a concentração de dióxido de carbono (CO2) e conseqüentemente a temperatura da atmosfera vêm aumentando.
Esse aumento de temperatura tem causado muitas preocupações, como a possibilidade de degelo parcial dos pólos e a elevação do nível dos oceanos.
Mas uma coisa parecia certa, o aumento do CO2 não deveria afetar a produção de alimentos. Agora isso mudou. Estudo recente sugere que o aumento do CO2 e da temperatura podem causar diminuição da quantidade de alimento produzida no planeta.
A fotossíntese é o processo utilizado pelas plantas para crescer. É a partir dela que o milho produz os grãos, a mandioca, sua raiz e o capim, as folhas que alimentam os bois. A fotossíntese utiliza CO2, água e luz para produzir o açúcar que as plantas aproveitam para construir cada uma de suas partes.
Faz décadas que os cientistas estudam o efeito de aumentos na concentração de CO2 sobre a fotossíntese. Nesses estudos as plantas são colocadas em estufas de vidro e cultivadas com maior quantidade de CO2. O resultado é que as plantas crescem mais rápido.
Baseando-se nesses resultados, os cientistas acreditavam que o aquecimento global deveria resultar em um aumento na produtividade dos vegetais.
Se por um lado ele aumenta a evaporação da água, fazendo com que o solo fique mais seco, prejudicando o crescimento das plantas, os estudos indicavam que a "adubação" causada pelo aumento da quantidade de CO2 deveria mais que compensar essa redução de água.
O resultado dessa conta levava os cientistas a prever que o aquecimento global não deveria afetar a produção de alimentos.
O problema é que esses estudos foram feitos em estufas, nas quais as condições naturais não são mimetizadas perfeitamente. Nos últimos anos foi desenvolvido um método que permite que se aumente a concentração de CO2 em uma área específica no meio de uma plantação a céu aberto.
Para tanto os cientistas usam um sistema que libera o CO2 em diversos pontos da plantação ao mesmo tempo em que um sistema computadorizado mede a cada segundo sua quantidade e regula sua liberação.
Usando sistemas desse tipo é possível estabelecer, no meio de uma plantação, uma área onde as plantas, desde a semeadura até a colheita, estão submetidas a uma maior concentração de CO2. Os resultados desses estudos foram surpreendentes.
Apesar de ainda se detectar um aumento da produtividade, esse aumento é quase a metade do que se observa em estufas e bastante inferior ao necessário para contrabalançar o efeito causado pela diminuição da quantidade de água.
Se os resultados forem confirmados, é possível prever que o aquecimento global deve resultar na diminuição da produtividade das lavouras. Em outras palavras, necessitaremos de uma área maior para produzir a mesma quantidade de alimento.
As pessoas que até agora se preocupavam somente com o aumento do nível dos oceanos podem começar a se preocupar com a diminuição da quantidade de alimentos. Mais uma razão para pararmos de queimar petróleo o mais cedo possível.
Data: 09/08/2006
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