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A riqueza cultural do interior do RJ - Artigo de Wanderley de Souza

Sentimos ser dever da área de C&T procurar aprofundar os estudos históricos e incentivar a análise científica de toda a documentação existente nos diferentes arquivos

Wanderley de Souza - Secretário de Estado de CT&I do RJ, reitor do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), membro das academias Brasileira e Mundial de Ciências e professor titular de Parasitologia da UFRJ



Recentemente tive a oportunidade de participar da solenidade de inauguração do novo pólo regional da Universidade a Distância do Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Rio das Flores.

Iniciativa do governo estadual, através da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), a Universidade a Distância congrega em consórcio as quatro universidades federais e as duas estaduais, com o objetivo de ampliar a oferta do ensino de graduação de qualidade no interior do estado.

Durante a solenidade, foi possível constatar a importância da iniciativa pela reação dos presentes, sobretudo dos novos alunos, muitos oriundos de municípios vizinhos, e até alguns do estado de Minas Gerais.

Após a inauguração, realizada em uma bela manhã de sábado, fui convidado pelo prefeito para conhecer melhor o município, especialmente algumas fazendas históricas.

Terminei ficando na cidade durante o final de semana, o que me permitiu tomar conhecimento de uma riqueza cultural ainda conhecida por poucos e que também se constitui em um laboratório natural para pesquisas sobre a história do Rio de Janeiro.

Na realidade, as fazendas de Rio das Flores e municípios vizinhos fazem parte de um conjunto maior, todas intimamente ligadas ao chamado Ciclo do Café, especialmente exuberante na segunda metade do século XIX.

Naquela época floresceu no Vale do Rio Paraíba do Sul o cultivo do café, fortemente baseado na utilização de mão-de-obra escrava.

Esta fase de prosperidade, marcada pela presença de viscondes e de barões, permitiu o acúmulo de um rico patrimônio em solares coloniais, cuja exuberância ainda é possível perceber nos dias de hoje.

Passado o período áureo do ciclo do café, a região passou por uma fase de declínio econômico e esquecimento.

No entanto, uma série de iniciativas mais recentes, com destaque para a atuação do Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba, conhecido como Instituto Preservale, e de um conjunto de proprietários conscientes da riqueza cultural e do potencial turístico de suas propriedades, vem dinamizando a região e criando condições para um novo florescimento, agora procurando explorar a riqueza cultural acumulada como instrumento de estímulo ao turismo.

Qual o papel que a Ciência e a Tecnologia podem desempenhar em um segmento como este?

Logo de início sentimos ser dever da área de C&T procurar aprofundar os estudos históricos e incentivar a análise científica de toda a documentação existente nos diferentes arquivos, ouvir e registrar as informações colhidas com a população que vive na região, e que ainda mantém fortes tradições, sobretudo na preservação de uma cultura de origem africana.

Tais estudos podem oferecer subsídios para melhor compreensão de um processo de apogeu e declínio de uma região, e levantar e catalogar documentos, quadros, móveis e demais objetos e dados que resgatem uma etapa importante da historio do Brasil, e que levem a uma ampliação da atração de novos visitantes, fortalecendo o turismo como atividade cultural e econômica.

Desde já convidamos os grupos de pesquisadores que atuam nas instituições fluminenses e que se interessam pelo tema a se organizarem sob a forma de uma rede de pesquisa, que poderá ser financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa.


Data: 11/08/2006