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Prevenção e tratamento de Aids precisam andar juntos

Para a diretora do Programa Nacional de DST e Aids, Mariângela Simão (foto), não é possível separar ações de prevenção e de tratamento, pois isto  representa um retrocesso na luta contra a Aids

Especialistas de diferentes países, dentre eles o Brasil, reunidos na Conferência Internacional de Aids, em Toronto, Canadá, discutiram nesta manhã a importância de ações integradas no que diz respeito à prevenção e ao tratamento.

Na opinião de Mariângela Simão, diretora do programa do Programa Nacional de DST e Aids, em primeiro lugar deve-se ter em mente que não é possível pensar em um programa de prevenção se não há acesso ao tratamento - um direito humano.

Para a especialista, separar uma ação da outra "pode ser perigoso e nos fazer voltar anos no luta contra a Aids".

Simão destacou que não se pode criar um falso dilema - tratamento ou prevenção. Nesse sentido, não é possível chegar a um equilíbrio entre as duas medidas através de indicadores econômicos por serem de naturezas diferentes.

Se por um lado os tratamentos custam mais caro, a prevenção não apresenta resultados imediatos e sua avaliação demanda indicadores de mais longo prazo, como mudanças comportamentais.

Ela defendeu, ainda, que os programas de prevenção devem ser dirigidos tanto para os grupos que apresentam maior vulnerabilidade, como também para a população.

Prevenção e sociedade civil

Sobre especificamente a prevenção, Ashok Kavi, ativista do movimento gay na Índia, afirmou que é fundamental levar em consideração os recursos humanos em sua diversidade, levando-se em conta principalmente a sociedade civil organizada, para que resultados consistentes sejam alcançados.

"Não é apenas com serviços e avanços técnicos que a doença será combatida", disse.

Na mesma linha, Mariângela Simão criticou os projetos internacionais implementados em países em desenvolvimento que não atentam para as particularidades locais.

Na opinião da especialista, muitas vezes investe-se uma soma considerável de recursos e os projetos não alcançam resultados satisfatórios.

Religião e prevenção

Fátima Hassan, do Aids Law Project, África do Sul, ressaltou que na maioria dos países do mundo a religião é um entrave para a implementação de uma política realmente efetiva no que diz respeito à prevenção.

Ela citou como exemplo a política do Vaticano de não recomendar o uso de camisinha, o que dificultaria o trabalho de conscientização, sobretudo em países com poucos recursos para campanhas educativas de massa.

Alex Coutinho, da Aids Support Organization, destacou que não se pode simplificar a questão da prevenção.

"Se nós dissermos que apenas abstinência funciona na prevenção do HIV, nós falharemos. Igualmente, se nós dissermos o mesmo sobre o uso de camisinha, não chegaremos a lugar nenhum", disse.

Países necessitam de 5,8 bilhões de dólares em doações para combater a Aids, a tuberculose e a malária

Recursos são necessários para desenvolver ações nos próximos cinco anos. O Fundo Global de Luta contra a Aids, a tuberculose e a malária anunciou hoje que 97 países solicitaram os financiamento.

O Fundo Mundial de Luta contra a Aids , a tuberculose e malária anunciou hoje que 97 países enviaram solicitações para a sexta rodada de doações. Para que todos os programas sejam colocados em prática, serão necessários 2,4 bilhões de dólares nos próximos dois anos, valor que deve chegar a 5,8 bi em cinco anos.

Todas as propostas recebidas serão avaliadas por um corpo técnico formado por especialistas independentes.

De acordo com Richard Feachem, diretor executivo do Fundo Global, esta rodada éfundamental para viabilizar a prevenção e o acesso universal ao tratamento em países em desenvolvimento até 2010. Para Feachem, é fundamental também que campanhas nacionais sejam desenvolvidas contra a malária e a tuberculose.

Análises iniciais mostram que 40% das propostas recebidas solicitam fundos para o combate do HIV/Aids, 31% da malária e 29 % da tuberculose.

Segundo dados divulgados pelo Fundo Global, a África foi o continente que mais apresentou projetos (50%), concentrando também cerca de 60% dos recursos solicitados.

Na última quarta-feira, o Fundo Global recebeu um aporte financeiro adicional de 500 milhões de dólares para os próximos cinco anos, oriundos da Bill & Melinda Foundation, instituição financiada pelo fundador da Microsoft.

Dados divulgados pelo Fundo Global apontam, ainda, que os projetos financiados pela instituição têm alcançado resultados significativos. Segundo estes dados, no campo do combate ao HIV/Aids, mais de meio milhão de pessoas de todo o mundo foram beneficiadas e iniciaram tratamento antiretroviral.


Data: 15/08/2006