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Pesquisa acha gene-chave para a evolução do cérebro

Estudo identifica parte do genoma que evoluiu mais rápido desde a separação entre humano e chimpanzé, 6 milhões de anos atrás

Um grupo de cientistas localizou o aquele que pode ser considerado o mais "exclusivo" dos genes humanos. Batizado de HAR1F, ele está envolvido no processo de desenvolvimento do cérebro e pode estar ligado a diferenças físicas que resultam em uma maior inteligência.

Foi provavelmente o trecho de DNA do Homo sapiens que evoluiu mais rápido desde que a linhagem humana se separou da dos chimpanzés, há mais de 6 milhões de anos.

"Temos evidência sugerindo que ele tem relação com o desenvolvimento do córtex cerebral, e pode ser que esteja relacionado a seu tamanho final", disse à Folha David Haussler, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz (EUA), líder do grupo que fez a descoberta.

O córtex, a camada superior do cérebro, é a estrutura responsável pelas atividades mentais "nobres", como consciência, linguagem e raciocínio.

Ao comparar os genomas de humanos com os outros animais, o grupo de Haussler descobriu que a versão humana do HAR1F sofreu 18 alterações no período pós-separação com o chimpanzé.

Essa marca é um sinal claro da pressão da seleção natural sobre uma dada característica durante a evolução. Se essas mudanças fossem aleatórias, no mesmo período o HAR1F deveria ter se mantido intacto, ou no máximo sofrido só uma alteração.

O gene recém-descrito foi o único analisado detalhadamente pela equipe, mas em estudo publicado hoje na revista "Nature" (http://www.nature.com) Haussler aponta outras 48 regiões do genoma que tiveram evolução acelerada.

"Sabemos que algumas delas também estão em regiões próximas a genes expressos no cérebro, mas ainda não temos provas de que elas estão regulando esses genes", afirma Haussler.

"O que identificamos foram os segmentos de DNA mais drasticamente alterados no genoma humano", diz. Segundo ele, por enquanto os outros trechos apontados são apenas candidatos a testes para tentar decodificar os eventos-chave na evolução humana.

A ligação entre o HAR1F e desenvolvimento cerebral foi deduzida mais diretamente porque ele só é ativado em ocasiões e lugares muito específicos no organismo.

"Ele segue um padrão muito similar ao de outro gene, o que produz a reelina, uma das proteínas que orquestram o desenvolvimento do córtex cerebral entre a 7ª e a 19ª semana de desenvolvimento embrionário", diz Haussler. "É uma etapa crucial para formação do cérebro."

O que mais parece ter surpreendido os cientistas, porém, não foi a velocidade da evolução do HAR1F, e sim o fato de ele não ser do tipo convencional.

Em outras palavras, ele não é usado pelas células para produção de proteínas, as moléculas que atuam diretamente dos mecanismos biológicos.

Haussler elucidou a estrutura do RNA (molécula prima do DNA) produzida pelo gene, mas ainda não descobriu o que ela faz. "Estamos testando isso no laboratório agora e esperamos descobrir com o que esse RNA interage na célula", diz.

O cientista diz acreditar que o fato de o HAR1F não produzir uma proteína própria é consistente com a hipótese de que as principais diferenças genéticas entre humanos e chimpanzés estão fora da área codificadora de proteínas.

Isso explicaria porque, mesmo com 99% de semelhança nos genes, humanos e símios são tão diferentes.

Para o geneticista alemão Wolfgang Enard, especialista em evolução humana, porém, ainda é cedo demais para concluir que as mudanças em genes não-codificadores são mais importantes do que as outras.

"Até agora temos poucas pistas sobre as mudanças genéticas que levaram ao características específicas dos humanos, e não sabemos colocá-las em ordem de importância."


Data: 17/08/2006