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Ameaça aos EUA: educação ruim - Artigo de William E. Kirwan

A educação superior deve assumir seu papel, colaborando para melhorar a educação básica, aumentar a ajuda financeira baseada nas necessidades do aluno e controlar seus custos com mais determinação

William E. Kirwan - Preside o Sistema Universitário de Maryland, que abrange 13 instituições universitárias



Uma crise de segurança nacional está se formando e, se os EUA não adotarem medidas imediatas, ela poderá ser devastadora.

Analisemos estes fatos: numa comparação internacional, os EUA ocupam o 7º lugar nos índices de conclusão do curso secundário, e o 9º em número de jovens que entram para a universidade.

Em cada 100 alunos que cursam a escola secundária, apenas 8 deverão concluir o curso superior nos próximos dez anos. Com base nos índices atuais de participação e conclusão, o sistema educacional americano revela brechas alarmantes.

Há amplo consenso quanto à "receita" para o mal que aflige a educação:

melhorar o desempenho dos nossos estudantes das escolas primária e secundária e possibilitar que mais jovens tenham acesso a uma educação superior da mais alta qualidade.

Mas é discutível a forma como o país segue essa receita, na prática.

Formação de professores

Claramente, uma solução para o problema exige esforço coordenado de vários setores. E nesse aspecto é importante a educação superior. Afinal de contas, são as Universidades que preparam os professores para as escolas.

A educação superior precisa se comprometer mais com a melhora do desempenho nas escolas primária e secundária.

É preciso que as faculdades e universidades procurem estimular mais estudantes a seguir a carreira de professor e, em parceria com distritos escolares locais, preparar melhor esses futuros mestres com o conhecimento e as habilidades para serem bem-sucedidos.

As universidades precisam trabalhar de forma mais eficiente com os cursos pré-vestibulares de modo a assegurar que a avaliação do estudante na escola secundária esteja alinhada com os requisitos para sua admissão na faculdade e que a transição da escola secundária para o curso superior seja integrada.

Apoio e corte de custos

Por outro lado, os governos estaduais e as Universidades precisam repensar a forma como é distribuída a ajuda financeira.

Nos últimos vinte anos tem se verificado uma enorme mudança na alocação da ajuda universitária, que negligencia os estudantes com necessidade financeira e privilegia aqueles com mais possibilidades - estudantes muitas vezes de famílias da classe média alta.

Muitos estudantes de baixa renda acabam perdendo o estímulo para cursar uma faculdade ou precisam trabalhar um período longo de horas, retardando sua formação, ou pior, às vezes nem concluindo o curso.

Iniciativas

Felizmente temos observado que várias universidades "esclarecidas", incluindo a da Carolina do Norte, da Virgínia, de Maryland e Harvard estão introduzindo programas para garantir que estudantes de famílias de baixa renda possam se formar sem se endividar.

No sistema universitário de Maryland, foi adotada recentemente uma política que exige que estudantes de famílias com a renda mais baixa também tenham a dívida mais baixa ao se graduar.

O investimento nesse tipo de ajuda institucional aumentou mais de 30% em 2005.

Finalmente, a educação superior - especialmente as Universidades e faculdades públicas - precisa aprender a operar com um orçamento em que os custos sejam mais controlados.

Muitos outros setores aumentaram a produtividade restringindo gastos. As instituições superiores de educação não podem mais se dar ao luxo de ignorar essa estratégia.

O investimento dos fundos estaduais na educação superior está em queda há 25 anos. De US$ 7.100 por aluno/ano em 2001 caiu para pouco mais de US$ 5.800 em 2005.

À medida que esse investimento diminuiu, o encargo das mensalidades escolares aumentou para as famílias e os estudantes.

Hoje, em mais de um quarto dos estados americanos a receita vinda das mensalidades escolares é maior do que o investimento do Estado nas suas faculdades e Universidades públicas.

Nas próximas décadas, áreas como saúde, energia e serviços sociais para uma população cada vez mais idosa exigirão uma proporção maior da arrecadação com impostos, acelerando a redução do investimento público na educação superior.

Volume e qualidade

Com esse declínio e sem um controle mais sério dos gastos, as universidades vão se defrontar com duas alternativas indesejáveis:

ou aceitam mais estudantes com mensalidades escolares mais baratas e observam uma piora na qualidade do ensino, ou protegem a qualidade aumentando as mensalidades a ponto de se tornarem proibitivas para alunos de baixa renda.

O Estado de Maryland incorporou o controle de custos como parte formal de seu processo de elaboração orçamentária.

Nos últimos dois anos, conseguiu obter cortes de despesas que totalizam US$ 40 milhões nas 13 instituições que compõem o sistema.

Preencher as brechas do sistema educacional dos EUA tem que ser uma prioridade nacional urgente.

Em nenhum lugar uma ação unificada e vigorosa é mais necessária do que em nossas Universidades.

A educação superior deve assumir seu papel, colaborando para melhorar a educação básica, aumentar a ajuda financeira baseada nas necessidades do aluno e controlar seus custos com mais determinação.

Se isso não acontecer, a liderança do país na economia mundial ficará corroída.

Mais ameaçador ainda, o espírito nacional da mobilidade social em sentido sempre ascendente se perderá e vamos nos deteriorar numa sociedade de duas camadas - com uma classe inferior permanente.


Data: 20/08/2006