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Pesquisa em Alagoas: arma contra mosca-das-frutas

Cientistas da Universidade Federal de Alagoas isolaram substância da polpa de mangas, goiabas e graviolas para utilizá-la como nova armadilha

O doce cheiro da goiaba, manga e graviola está ajudando cientistas a fabricarem uma arma mortal contra a mosca-das-frutas, inseto originário do Mediterrâneo que causa prejuízos anuais de US$ 500 milhões à fruticultura brasileira.

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) isolaram na polpa dessas três frutas substâncias que atraem a mosca. O objetivo da equipe é sintetizar o composto e usá-lo em armadilhas para aprisionar e matar o inseto-praga.

Os voláteis, dos grupos dos terpenos e ésteres, foram isolados no início deste ano de frutas colhidas em pomares comerciais de Maceió.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Euzébio Goulart, essas substâncias conduzem as fêmeas da mosca a localizarem as frutas em que depositam seus ovos, tornado-as impróprias à comercialização.

O próximo passo do trabalho, realizado no Laboratório de Pesquisa em Recursos Naturais da Ufal, será caracterizar quimicamente os compostos.

Ou seja, descrever a composição dos voláteis por meio de uma fórmula química. O processo será feito com a ajuda da ressonância magnética nuclear (RMN), considerada por Goulart a técnica mais rápida e segura.

O pesquisador falou sobre a aplicação da RMN na agricultura semana passada, no Recife, durante a 9ª Jornada Brasileira de Ressonância Magnética. "A RMN preserva a amostra, permitindo que seja usada em outros testes", defende. Goulart. "Além disso, ao contrário de outras técnicas, necessita de pequenas quantidades."

A terceira etapa da pesquisa será sintetizar o composto para permitir o uso industrial.

"É inviável, toda vez que se for produzir as iscas, ter que extrair a substância diretamente da polpa das frutas", justifica. Essa fase do estudo, no entanto, apenas deverá ser iniciada em dois anos.

As iscas, além de atrair, aprisionarão as moscas-das-frutas. Isso porque são formuladas com polímeros sintéticos que funcionam como uma cola.

"As moscas se aproximam das armadilhas atraídas pelo cheiro das iscas e suas asas aderem ao material", descreve Goulart.

O farmacêutico defende o uso de armadilhas no controle da mosca-das-frutas por entender que são um método mais econômico e ecologicamente correto. Isso porque reduzem o uso de agrotóxicos.

"Usando as armadilhas é possível monitorar a população de moscas. Assim, só é preciso usar inseticidas quando a quantidade de insetos tiver acima de um determinado patamar", explica.

Segundo Goulart, armadilhas semelhantes existem no mercado, mas são importadas.

"A nossa será mais barata", defendo o pesquisador, dono de uma empresa incubada na Ufal que produzirá as armadilhas. O pesquisador ainda não sabe quanto custará o equipamento.

Praga ataca pomares há um século

A mosca-das-frutas, também chamada de mosca-do-mediterrâneo, é considerada uma das pragas mais destrutivas do mundo, segundo o biólogo Aldo Malavasi, presidente da Biofábrica Moscamed, empresa implantada em Juazeiro (BA) para fabricar machos estéreis do inseto.

"Está presente em muitos países e, no Brasil, em quase todo o território nacional", justifica.

O primeiro registro do inseto no país foi feito em 1901. As fêmeas depositam os ovos no fruto. Na fase larval, quando popularmente são chamadas de tapuru, se alimentam da polpa.

O próximo estágio, o de pupa, é completado no solo, de onde eclodem adultos. Uma mosca nesse estágio mede cerca de 5 milímetros.

O ciclo de vida de uma "Ceratitis capitata" - nome dado pelos cientistas à mosca-das-frutas - dura 31 dias.

"Mas uma mosca das frutas pode viver até 10 meses, colocando, nesse período, cerca de 800 ovos", explica Malavasi. A fêmea inicia a postura 12 dias depois do acasalamento.

O objetivo da Biofábrica Moscamed é utilizar a técnica do inseto estéril (TIE) para diminuir a população selvagem das moscas.

O princípio é simples: aumentando a quantidade de machos inférteis na natureza diminui-se a prole. Os idealizadores também defendem o uso da TIE como uma prática ambientalmente correta.

É que o método, teoricamente, reduz o emprego de inseticidas.

O combate à mosca-das-frutas também pode ser feito por meio do controle biológico, em associação com a TIE. O método se baseia na proliferação de uma vespa que parasita a mosca.

A vespa, denominada "Diachasmimorpha longicaudata", deposita seus ovos dentro das larvas. Até alcançar a fase de pupa, a larva da vespa se alimenta do conteúdo da larva da mosca.

E, no lugar de emergir um adulto de mosca, o que se tem é um novo parasitóide.


Data: 20/08/2006