topo_cabecalho
Biotecnologia: Células por dólares, via Internet, em Cingapura

País adota política liberal para ser pólo de pesquisa em ciência médica

ES Cell International, empresa de Cingapura, afirma ter se tornado no mês passado a primeira empresa do mundo a produzir comercialmente linhagens de células-tronco de embriões humanos para experiências clínicas.

Por US$ 6 mil, via Internet, o pesquisador pode comprar frascos com células-tronco da ES.

Cingapura, uma cidade-Estado asiática bastante conservadora em muitos aspectos - inclusive no veto à comercialização de chiclete -, está emergindo como um local propício à pesquisa de células-tronco, graças a leis liberais e a um financiamento governamental generoso.

Ultimamente, a aspiração desse pequeno país de chegar, por exemplo, à mesma posição de Boston como centro de biotecnologia está recebendo um apoio involuntário e inesperado - da Casa Branca.

Diante das políticas adotadas pelo governo de George W. Bush, restringindo os recursos federais para a pesquisa de células-tronco, cresceu o número de importantes cientistas que fazem as malas e partem para Cingapura.

Dois dos mais importantes pesquisadores americanos que trabalham na área de células cancerígenas, Neal Copeland e Nancy Jenkins, se mudam no mês que vem para lá, onde assumirão postos no Instituto de Biologia Celular e Molecular.

A equipe de marido e mulher, que trabalhou durante 20 anos para o Instituto Nacional do Câncer, em Maryland, diz que as políticas adotadas e os cortes no orçamento tornaram difícil a obtenção de financiamento para pesquisa nos EUA.

"Queremos estar num lugar onde existe entusiasmo pela ciência e as coisas progridem", diz Copeland.

Os cientistas dizem que o veto do presidente Bush, no mês passado, de lei que aumentava os limites de financiamento federal para a pesquisa de células-tronco foi o mais recente de uma série de recuos do governo nesse campo que estão sufocando o ambiente da pesquisa e corroendo a superioridade americana no campo da ciência médica básica.

Janela de oportunidade

A redução das subvenções para pesquisa, uma ênfase maior das empresas nos lucros rápidos e uma grande controvérsia política em torno das células-tronco deixaram muitos cientistas americanos totalmente frustrados.

Abrindo suas asas com estímulos e recursos, surge Cingapura, que começa a ser conhecida como refúgio da liberdade biomédica.

A razão é econômica. Diante da queda dos rendimentos provenientes dos produtos eletrônicos, indústria que o colocou no ranking das nações mais ricas do mundo, o país lançou uma iniciativa em 2000 para se tornar líder no campo da biotecnologia.

"Fazia parte de uma ampla estratégia para diversificar a base da nossa economia e, mais especificamente, incluir aí um setor de pesquisa intensiva", diz Beh Swan Gin, diretor do Grupo de Ciências Biomédicas no Conselho de Desenvolvimento Econômico.

Combinando isenções fiscais e subsídios, Cingapura tenta atrair grandes empresas farmacêuticas. Fábricas produzindo remédios para empresas como Merck, Pfizer e Schering-Plough geram hoje uma receita anual de US$ 11,4 bilhões, 5% da economia nacional.

Mas a idéia é que as empresas façam mais do que produzir remédios. Para convencê-las a se dedicar também à pesquisa básica e ao desenvolvimento de novos medicamentos, o governo se ofereceu para pagar até 30% das despesas.

Pelo menos 30 empresas já reagiram, entre elas a gigante suíça Novartis, que abriu um instituto no país para desenvolver remédios contra a tuberculose e o vírus da dengue.


Data: 21/08/2006