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A tragédia de Alcântara e a carreira de C&T - Artigo de Acioli Olivo

É hora, presidente Lula, de colocar a carreira de C&T nos mesmo níveis de remuneração das carreiras mais importantes para o desenvolvimento nacional

Acioli Olivo - Servidor do Instituto Nacional de Pesuisas Espaciais (Inpe), diretor do Sindicato de C&T e secretário executivo do Fórum de C&T.



Quando as câmeras de filmagem do Centro de Lançamento de Alcântara marcavam 13h26m6seg do dia 22 de agosto de 2003, um princípio de incêndio no VLS-1 foi captado.

Naquele momento, engenheiros e técnicostrabalhavam nas instalações da torre, que ficou completamente destruída. Dez minutos depois, a plataforma, de 32 metros de altura, desabou e virou um amontoado de 200 toneladas de aço.

A temperatura chegou a 3.000ºC, o que dificultou o resgate, resultando no trágico saldo de 21 mortos.

Participavam daquela missão em Alcântara 110 funcionários do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e nove pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ambos em São José dos Campos, SP.

A tragédia que abalou o país e destruiu famílias ainda não foi superada, pois o choro e a dor que ela provocou não foram suficientes para superar os entraves que ainda emperram o programa espacial brasileiro, permanecendo o déficit de pessoal especializado, salários defasados, atrasos no cronograma e contingenciamento de recursos.

O Fórum de Ciência e Tecnologia, entidade que congrega cerca de 20 associações e sindicatos representando os servidores de dezenas de instituições federais da Carreira de C&T, incluindo o CTA e o Inpe, tem como objetivo principal lutar por melhores condições de trabalho, orçamentos e salários que estejam à altura da importância que as instituições e os servidores da carreira representam para o desenvolvimento nacional.

Dentro deste enfoque, somos solidários com a dor daqueles que perderam seus familiares na tragédia de Alcântara e exigimos que o Governo Federal destine os recursos necessários para a continuidade do programa espacial brasileiro.

Mas, desta vez, com os mecanismos de segurança adequados, tais como a construção de uma área de escape, com acesso a um túnel e umsistema de pressurização, o redesenho do sistema elétrico com proteção contra curto-circuitos, além de uma rede de proteção contra raios.

Com relação à questão salarial, nossa preocupação mais urgente é com a proximidade do prazo de 31/8/2006, data limite para a apresentaçãodo Orçamento da União para 2007.

Até a presente data, não temos conhecimento de nenhuma ação efetiva por parte do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, para a alocação dos recursos orçamentários necessários à implementação da tabela salarial proposta pelo Fórum de C&T.

Nunca é demais lembrar que instituições como a Fiocruz, IBGE, Inpi e Inmetro, até há pouco pertencentes a Carreira de C&T, tiveram suas tabelas salariais corrigidas através da MP 301, de 29/6/2006.

O próprio presidente Lula, em diversas manifestações, desde quando esteve presente no ato de homenagem aos heróis de Alcântara, até mais recentemente, quando se reuniu com personalidades da comunidade científica, não tem poupado elogios ao desempenho do setor.

Chegou a hora, presidente, de transformar estes elogios em ações concretas e mostrar que o discurso do governo não é um amontoado de promessas, mas sim uma ação concreta e um política salarial, que coloque a Carreira de C&T nos mesmo níveis remuneratórios das carreiras mais importantes para o desenvolvimento nacional.


Data: 23/08/2006