topo_cabecalho
Brasil já sofre efeitos de mudança global do clima, afirma relatório

Greenpeace cobra metas do governo e diz querer despertar país para problema

Com o lançamento de um relatório e um documentário, o Greenpeace iniciou ontem uma campanha para mostrar que o Brasil já está sofrendo efeitos do aquecimento global.

Ligando o problema da mudança climática à intensificação de eventos como secas e inundações, a ONG cobra do governo ação concreta na área, com programas de redução na emissão de dióxido de carbono.

"Queremos que o Brasil assuma metas", diz Marcelo Furtado, diretor de campanhas da entidade. "Elas não seriam tão rigorosas quanto as dos países mais industrializados, mas o governo brasileiro nem sequer possui uma política nacional para a mudança climática".

A campanha do Greenpeace faz parte de uma estratégia global para enquadrar países pobres que são grandes emissores de gases-estufa, mas estão isentos de cumprir metas de corte, como Índia e China.

"O Brasil não pode ser eximido das emissões causadas pelo desmatamento da Amazônia", diz Furtado. A destruição florestal é a principal fonte de carbono lançado ao ar pelo país.

A proposta de assumir metas, porém, enfrenta frote oposição. "O Brasil não aceita isso porque os níveis atuais de emissão não são a métrica correta para calcular a culpa coletiva pelo aquecimento global", diz José Domingos Miguez, coordenador do Ministério da Ciência e Tecnologia para a área.

Para o governo brasileiro, a escala correta -que agrava a culpa dos países ricos- é o total acumulado de carbono emitido desde o século 19. O Brasil só deve assumir compromissos de redução mediante alguma compensação, como está previsto no Protocolo de Kyoto.

Manifesto

O relatório lançado ontem, intitulado "Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas", junta dados científicos a depoimentos de brasileiros vítimas estiagens e inundações.

A idéia de dar tom sentimental à campanha é conquistar quem está alheio ao problema hoje. O relatório usa estudos conceituados para ligar a mudança climática ao furacão Catarina, em 2004, às secas na Amazônia e na região Sul em 2005, e às últimas ressacas no Rio de Janeiro.

O documento foi relativamente bem recebido por cientistas, mas para o físico Gylvan Meira Filho, da USP, o autor do prefácio, seu maior valor não é como fonte de informação técnica.

"Ele é oportuno por ajudar a fazer com que as pessoas pensem sobre o que pretendem fazer a respeito da mudança do clima", disse.

Um climatologista citado na obra, Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, diz que ainda não há dados suficientes para apontar alguns dos eventos climáticos mencionados no documento como efeitos diretos do aquecimento global.

"O Catarina não teve relação com aumento da temperatura oceânica no Atlântico Sul", exemplifica.


Data: 24/08/2006