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Astrônomos decidem: Plutão não é mais planeta

Votação em Praga, nesta quinta-feira, deixa Sistema Solar com apenas 8 planetas verdadeiros. Plutão e outros astros que eram candidatos à categoria planetária ganham o nome de planeta-anão; gravidade valeu como "nota de corte"

Quem tinha apego sentimental por Plutão bem que tentou arrumar uma vaga para ele no Sistema Solar, nem que fosse no tapetão. Mas não adiantou.

Por mais que os astrólogos digam que ele sempre influirá no destino dos terráqueos, o fato é que o ex-nono planeta está oficialmente rebaixado para a segunda divisão, ganhando o apelido de "planeta-anão".

Depois de uma semana de debates tão esquentados quanto (às vezes) surreais, a solução de consenso entre os 2.500 cientistas presentes à reunião da IAU (União Astronômica Internacional, na sigla inglesa) foi admitir apenas oito planetas "verdadeiros" nos domínios do Sol.

Foi uma reviravolta e tanto em relação à proposta inicial de uma comissão da IAU -ampliar para 12 o número de planetas do Sistema Solar, e isso só para começo de conversa-, mas a mudança já se desenhava desde que a expansão foi cogitada publicamente.

O Comitê para Definição de Planeta, da IAU, queria um conceito de planeta que valesse para o Universo inteiro. A rebelião da comunidade astronômica contra a proposta fez o comitê engolir a pretensão e se contentar com uma definição que resolvesse os problemas dos vizinhos da Terra, e olhe lá.

"Se eu estou desapontado? Desapontado não é a palavra exata", disse à Folha, com voz pastosa e aparentemente exausto, o astrônomo Richard Binzel, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), um dos membros do comitê.

"O Universo é um lugar complexo, e alguns astrônomos acharam que talvez estivéssemos indo longe demais com uma tentativa tão abrangente. Acho que foi uma decisão razoável, no fim das contas", concluiu Binzel de seu quarto de hotel em Praga, capital tcheca, onde a reunião da IAU aconteceu.

A história é que manda

O argumento usado para rebaixar Plutão foi, em essência, baseado na história do Sistema Solar.

Ao insistir que, para ser um planeta, um astro tem de ser não apenas esférico e não-estelar como capaz de "limpar a vizinhança de sua órbita", os astrônomos querem mostrar que a formação dos oito planetas, de um lado, e a de Plutão, de outro, foram bem diferentes.

"Limpar mesmo os arredores significa ter massa suficiente para continuar engolindo matéria no processo de crescimento", explica o astrônomo Cássio Leandro Barbosa, da Univap (Universidade do Vale do Paraíba).

Plutão não foi capaz, por exemplo, de engolir outros corpos na sua formação. Nem seu satélite Caronte, gira propriamente em torno dele -eles giram um em volta do outro. Além do mais, sua trajetória cruza a de Netuno, que é muitíssimo maior. Assim, ele nunca poderia ser considerado o objeto dominante.

Dois dos astros que poderiam integrar uma lista de 12 planetas -Ceres, que fica entre Marte e Júpiter, e o misterioso "Xena", nas fronteiras geladas do Sistema Solar-, entram para a lista de planetas-anões. Outros devem se juntar a eles logo.


Data: 25/08/2006