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A SBPC no Rio Grande do Norte na luta para a criação da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, artigo de Nelson Marques

"Há fortes argumentos para que o Rio Grande do Norte dê um novo passo para a consolidação do seu sistema de ciência e tecnologia, criando uma Secretaria de C&T"


Nelson Marques - Coordenador do Núcleo de Comunicação em Cultura, Ciência e Tecnologia, Museu Câmara Cascudo/UFRN (Nudict) e secretaria regional SBPC/RN.

 

Podemos dizer, sem fugir muito da verdade, que não temos no país uma cultura firmada de que ciência e tecnologia são ferramentas fundamentais para alavancar o desenvolvimento do país e, menos ainda, dos estados.

Em geral, quando se pensa em pesquisa científica capaz de gerar novos conhecimentos, novas tecnologias, e novos processos inovadores, isto é relacionado a algo distante, complicado, exclusivo de cientistas e doutores universitários.

O mundo moderno já está mudando essa forma de pensar. Acredita-se cada vez mais que os investimentos em ciência, tecnologia e educação, seja a alavanca geradora mais potente para oferecer mais oportunidades para pessoas e mais competitividade para as nossas empresas, levando a um desenvolvimento econômico sustentável e, finalmente, à inclusão social.

Tivemos nos últimos anos no Rio Grande do Norte uma luta contínua para o convencimento da importância da criação de uma fundação de apoio à pesquisa.

A criação da Fapern - Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte, cerca de dois anos atrás, foi um marco para o estado, nessa nova forma de pensar e encaminhar ações que dinamizem esse importante segmento mobilizador do desenvolvimento de todos os povos e seus territórios. Mesmo que ainda assim tivéssemos sido um dos últimos estados brasileiros a criar uma FAP.

Mas, em nosso ponto de vista, é preciso o passo seguinte, para consolidar o sistema de Ciência e Tecnologia em nosso estado, com a criação da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. E, mais uma vez, a Secretaria Regional da SBPC está envolvida nessa luta.

De novo estamos a reboque de um movimento já vitorioso iniciado ainda nos anos 60 do século passado, com a criação da Fapesp em São Paulo. Hoje, dos 27 estados brasileiros, apenas o Rio Grande do Norte, Paraíba, Rondônia, Roraima e Tocantins ainda não dispõem de secretarias específicas para gestão de ciência e tecnologia.

Mesmo alguns municípios, entre os quais João Pessoa (PB), Viçosa (MG), Manaus (AM) e Santa Rita do Sapucaí (SP) já criaram secretarias para estimular ações dessas áreas, percebendo a importância da ciência e da tecnologia como suporte ao desenvolvimento e bem-estar social.

É verdade que, mesmo sem uma Secretaria de Ciência e Tecnologia na estrutura administrativa estadual, as ações nessas atividades evoluíram bastante nos últimos anos.

Vale lembrar que graças à mobilização e ação constantes da comunidade acadêmica do Rio Grande do Norte conseguiu-se a criação, nos últimos vinte anos, de estruturas que minimamente tem dado certo apoio à ciência e tecnologia no estado. Dessa luta resultou o FUNDET, Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o Conecit - Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia e, mais recentemente, a Fapern.

Quase sempre, no entanto, as ações relacionadas com ciência e tecnologia no estado decorrem de programas do Governo Federal, através dos programas de pós-graduação apoiados pela Capes e CNPq, e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ou de umas poucas empresas, como a Petrobrás, com participação pouco efetiva de instâncias públicas do Governo do Estado.

Por isso mesmo, há fortes argumentos para que o Rio Grande do Norte dê um novo passo para a consolidação do seu sistema de ciência e tecnologia, criando uma Secretaria de Ciência e Tecnologia, que possibilite ao Governo do Estado realizar ações complementares àquelas oriundas do Governo Federal, com independência para definir suas prioridades, funcionando, também, como instrumento para captação de mais recursos do próprio governo federal.

Caberia a esta secretaria a coordenação da política de ciência e tecnologia do Estado do Rio Grande do Norte, agregando todas as instituições e atores envolvidos na produção de conhecimento, na difusão de tecnologias, na geração de processos e produtos inovadores, como condição necessária para sustentação e exploração de nossas potencialidades, que se manifestam através da nossa diversificada economia; petróleo, gás natural, sal marinho, minérios, frutas tropicais, turismo, apicultura, pecuária, álcool e açúcar, avicultura, tecelagem e confecções, cera de carnaúba, doces, balas e pirulitos, sisal, carcinicultura, redes, bonés, produtos alimentícios, etc.

O Rio Grande do Norte não deve permitir que suas riquezas fiquem adormecidas, sejam mal aproveitadas, ou, pior ainda, sejam desperdiçadas por falta de ações para bem aproveita-las, enquanto parte significativa da sua população carece de condições mínimas para sobrevivência e exercício da cidadania.

Caberá à Secretaria de Ciência e Tecnologia o oferecer de soluções tecnológicas criando através de parcerias com as instituições de pesquisa do estado um ambiente propício para a implantação de tecnologias inovadoras, atendendo às demandas do Estado por políticas que consolidem o desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte.


Data: 29/08/2006