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Ennio Candotti: "O contingenciamento é absolutamente ilegal"

Para o presidente da SBPC, "precisamos caminhar com maior velocidade"

Eis a entrevista com Ennio Candotti publicado por "O Estado de SP":

- Como resolver o contingenciamento dos fundos setoriais?

- Não contingenciar mais e devolver o que foi recolhido para o devido fim: desenvolvimento científico e tecnológico. Grandes projetos não faltam: Amazônia, mar, espaço, satélites, energia, fármacos e vacinas, doenças tropicais. Não se imagina usar em grandes revoluções na economia, mas em pensar nos programas de longo prazo, como Amazônia.

- Qual é o desafio mais urgente da ciência brasileira?

- Fixar jovens no Norte, Nordeste e Centro-Oeste com condições de trabalhar, pesquisar e ensinar engenharia, química, física, farmacologia, medicina, matemática, antropologia, história, música, literatura.

- O que há de positivo?

- Pode-se dizer que fizemos progressos, os orçamentos foram crescentes nos últimos dez anos e houve continuidade dos programas que há décadas defendemos, principalmente de formação de recursos humanos. Mas precisamos caminhar com maior velocidade em pesquisa. A reforma e autonomia da Universidade é também fundamental. Para colocar o país no mapa da economia mundial e promover um desenvolvimento econômico regional mais veloz, é preciso estimular as engenharias, aplicar mais os conhecimentos, educar melhor na escola média e na Universidade. É preciso fixar mais gente qualificada nos centros fora do Rio e de SP.

- Qual é sua avaliação do ministro Sérgio Rezende, o terceiro titular de C&T no governo Lula?

- Acho que o presidente Lula é sinceramente sensível aos temas da educação, da C&T. Tenho clareza disso na própria escolha do ministro Sérgio Rezende. Pelo menos ele não precisa de assessores para entender o que está fazendo. Não precisa ser constantemente instruído. É uma pessoa da área.

- O senhor disse ao presidente Lula que os bancos deveriam destinar 10% dos lucros para investimento em ciências nas escolas. Os lucros são abusivos?

- Acho, sim, exagerados. Conheço as razões da economia real, mas me permito observar que estes lucros são únicos no mundo. Caberia uma contribuição de exceção para um comportamento de exceção do sistema financeiro.

- A que seria destinado o dinheiro?

- Com R$ 4 bilhões ou R$ 5 bilhões financiaríamos um programa de educação em ciências e matemática, complementar ao da escola regular. Melhorar os salários é importante, mas não é suficiente. A SBPC propõe criar centros ou oficinas de ciências e artes, laboratórios de matemática, computação e línguas. Os alunos poderiam lá realizar as atividades que não podem realizar na própria escola.


Data: 04/09/2006