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Biólogos revelam novas espécies de animais e plantas

Eles enfiam os pés no mato em busca de bichos e plantas que a ciência desconhece. Pesquisador participou da nomeação de 254 aranhas (entre as quais a Ctenus fernandae, homenagem à sua mulher, Fernanda)

Sair a campo atrás de descobridores de espécies é uma expedição arriscada. Se você não é da área, vale treinar um biologuês de turista.

Mas, mesmo quem não tem nada a ver com o pato-mergulhão ou a morfologia da semente da laurácea, pode voltar fascinado da aproximação com esses especialistas.

De olhos nos livros e pés no mato, eles etiquetam a natureza, num trabalho de formiga. São a minoria que dá nome aos bois -e a plantas, aves, mosquitos, vermes e outros bichos.

A botânica Luiza Kinoshita, 58, da Unicamp, acaba de batizar oito tipos de mandevilla, arbusto ao qual dedica boa parte da vida. No que esse interesse profundo é mais estranho que torcer por futebol?

Gente assim, que "caça" coisas para a ciência, forma uma família ainda pouco entendida -sensível ao mix de charme e veneno que nos faz, às vezes, trocar qualquer humano pelo canal do mundo animal.

Esse gênero de cientistas é bem mais heterogêneo que sua descrição na TV, onde, em nome da piada, tornou-se comum o comportamento de ridicularizar pesquisas de base.

Aranhas

Por isso, e por ter mais o que fazer, o pesquisador Antonio Brescovit, 46, do Instituto Butantan, evita dar entrevista por aí, a torto e a direito. Com seu nome associado a 40 novos gêneros de aranhas brasileiras e 254 espécies (entre as quais a Ctenus fernandae, homenagem à sua mulher, Fernanda), o aracnólogo diz que já perdeu a graça "ser zoado" por causa da conotação sexual do objeto de estudo. "Imagine os colegas que estudam cobra, coitados".

Até no habitat privilegiado do meio acadêmico há gozação. "Somos vistos como "nerds" ou largadões hippies. Estou mais para "nerd'", classifica-se o especialista em fauna marinha Matheus Marcos Rotundo, 28.

Ele achou, no estuário de Santos, um novo peixe peçonhento, o Opsanus brasiliensis.

"Para muitas pessoas, biólogos são seres exóticos que moram em locais sombrios com bichos empalhados", diz Reuber Brandão, 34, herpetólogo da UnB e pesquisador do Ibama que deu nome de ninfa a uma perereca do cerrado: Phyllomedusa oreades.


Data: 04/09/2006