Mitos derrubados: Genética e mestiçagem
Em partes da América Latina, como na Costa Rica ou na Colômbia, a genética revela a realidade da mestiçagem da população, aponta pesquisador no Congresso Brasileiro de Genética
Se no Brasil os negros estão se autodeclarando negros com mais freqüência, em alguns lugares da América Latina o chamado mito cultural da população branca ainda persiste.
O problema é que, com as ferramentas genéticas modernas, as mestiçagens são rapidamente reveladas.
"Em parte da Costa Rica existe a percepção na população de que a linhagem européia é a mais predominante", disse Bernal Brenes, do Departamento de Biologia da Universidade de Costa Rica, em San José, à Agência Fapesp.
O pesquisador foi um dos palestrantes desta segunda-feira (4/9), primeiro dia de atividades do 52º Congresso Brasileiro de Genética.
Em pesquisas sobre genética histórica, Brenes pôde constatar o equívoco presente no senso comum. "Na Costa Rica, pessoas vindas da África e indígenas tentavam rapidamente casar com européias. Além disso, nos documentos históricos percebe-se a falta de menção à mãe, principalmente quando indígena", disse.
Segundo o pesquisador, em média as linhagens presentes na Costa Rica, em relação à origem, são 84% ameríndia, 10% européia e 6% africana. "Os dados mostram que o mito cultural está errado", disse.
Além de revelar o elevado aporte de linhagens indígenas na população costa-riquenha - o que também ocorre em muitos outros lugares da América Latina -, os estudos mostram outras semelhanças pouco percebidas em países como, por exemplo, o Chile.
"As populações da Costa Rica e do Chile, do ponto de vista genético, são muito semelhantes. A aproximação entre as duas é maior do que a da Costa Rica com a Nicarágua, países que estão bem mais próximos geograficamente", disse Brenes.
De forma simplificada, essa história genética, que poderá ainda revelar muito sobre a ocupação latino-americana, mostra padrões de chegada dos europeus muito parecidos.
Segundo Brenes, o que ocorreu na Costa Rica e no Chile, em um período de 10 a 15 gerações, foi uma mistura étnica predominantemente feita entre homens europeus e mulheres indígenas. "É similar ao que se verificou em pontos do Nordeste brasileiro", comparou.
No Brasil, a presença negra foi também bastante marcante, o que deu à população do país uma mestiçagem, cada vez mais revelada pelos próprios atores deste processo, muito maior. No caso brasileiro, 33% das linhagens são indígenas, 39% européias e 28% africanas. Data: 05/09/2006
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