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Dia 7 de setembro, dia internacional do Tigre da Tasmania?, artigo de Thomas Schlemmermeyer

"Tudo indica que o Tigre da Tasmânia nunca mais voltará"

Thomas Schlemmermeyer - Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)



Faz pouco tempo que celebramos o famoso 7 de setembro, feriado nacional do Brasil. Quem mora numa cidade menor do Brasil, levantou-se cedo provavelmente, para participar nos desfiles, cumprimentar as autoridades locais, ouvir os discursos, os quais de ano em ano devem ser bastante semelhantes entre si. Já há uma rotina de 7 de setembro!

Quem mora nas cidades maiores tinha a possibilidade de presenciar desfiles maiores, daí a coisa fica um pouco mais anônima e um pouco mais impessoal. Mas basicamente, são estas as escolhas comuns de 7 de setembro.

Agora, o que talvez nem todos saibam e que ainda vale a pena contar é que o feriado nacional do Brasil coincide com o aniversário da morte do último tigre da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). Há 70 anos, no dia 7 de setembro, morreu o último tigre da Tasmânia no Zoológico de Hobart, na Austrália.

O tigre da Tasmânia não é um felino, tampouco é um lobo, não é nada disso não, pois trata-se de um marsupial, ou seja, de um mamífero com marsupium (uma bolsa fora do corpo para o desenvolvimento dos filhotes). Também os cangurus da Austrália e os gambás do Brasil pertencem aos marsupiais.

Os marsupiais se diversificaram em todos os lugares onde não houve placentários (mamíferos com placenta), pois estes evoluíram em outros lugares. A Austrália e a América do Sul chegaram a ter muitas espécies de marsupiais na fauna.

Mas com a formação do istmo de Panamá e a subseqüente invasão do continente sul-americano por mamíferos da América do Norte, a fauna de marsupiais da nossa América do Sul foi reduzida muito. O Gambá (Didelphis sp.) é testemunho sobrevivente deste passado rico em espécies de marsupiais.

O que aconteceu com o tigre da Tasmânia, depois da chegada do homem branco, é bastante curioso e no mínimo absurdo. Primeiro, os europeus brancos, imigrados na Austrália, quiseram acabar com ele, extingui-lo, e só depois,quiseram elevá-lo a símbolo ambiental, postumamente.

Em 1888 o Parlamento Regional da Tasmânia ofereceu uma recompensa de um dólar australiano por cada animal abatido. Desta forma, até a abolição desta recompensa, em 1909, já haviam sido pagos 2184 prêmios por animais abatidos.

Naquele ano, as populações daquela espécie já estavam em declínio irreversível. Tentou-se manter alguns indivíduos em cativeiro. Mas em cativeiro, o último faleceu em 1936.

Somente depois desta data, colocou-se o nome do Tigre da Tasmania na lista de espécies ameaçadas. Mas daí, já era tarde demais, pois a espécie a esta altura já estava extinta. Nunca mais foi visto nenhum indivíduo.

Hoje em dia, o tigre da Tasmânia é um símbolo da vulnerabilidade dos ecossistemas da Tasmânia. É também símbolo num sentido mais aplicado e mais prático: ele consta nas placas dos carros da Tasmânia. E um pessoal de cientistas lá na Austrália estava tentando clonar a espécie a partir de um feto conservado em álcool. Este feto está conservado há 100 anos e está guardado num museu. Começaram com esse projeto de clonagem em torno de 2001.

Mas não se sabe o que eles, lá, na Austrália, entendem sob o termo clonagem, aquilo soava mais como ficção científica do que como ciência. Eles partiram de DNA extraído desse único feto, amplificaram esse DNA e eles queriam de alguma forma chegar a cromossomos artificiais. Mas cromossomos artificiais ainda não fazem um marsupial completo e vivo. Então estas tentativas que foram começadas há uns cinco anos, foram abandonadas no ano passado.

Tudo indica que o Tigre da Tasmânia nunca mais voltará. Mas talvez possa-se pensar nele todo dia 7 de setembro!


Data: 11/09/2006