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Técnica recria parte do útero e aumenta chance de gravidez

Método usa aparelho de braile para reproduzir em laboratório os movimentos naturais do órgão

Uma técnica inédita tenta chegar o mais próximo possível da realidade que o embrião encontra no corpo. Ela recria, em laboratório, um pedaço do sistema reprodutor feminino: a tuba uterina (canal que liga os ovários ao útero).

O objetivo é elevar a taxa de sucesso da fertilização assistida e aumentar a produtividade das clínicas que oferecem o serviço.

Desenvolvido por pesquisadores ligados à Clínica Huntington, de São Paulo, como parte de um projeto internacional, o método já foi aplicado com sucesso em animais e deve começar a ser testado em células humanas no ano que vem.

Parte do princípio básico de que o corpo não é estático. A tuba, local onde a fertilização acontece, apresenta movimentos imperceptíveis, mas essenciais para um embrião que começa a se formar.

A versão artificial é montada em um canal da espessura de um fio de cabelo suavemente movimentado com a ajuda de um aparelho usado para escrever textos em braile.

"Esse
aparelho (para escrever em braile) tem pequenos pinos que sobem e descem e assim pressionam as extremidades do tubo para que haja um fluxo contínuo do meio", explica Péricles Hassun, membro da equipe que desenvolveu a tuba artificial.

O dispositivo é ligado a um computador que roda um software especial para simular a situação real da tuba uterina até que o embrião cresça.

Movimento essencial

O movimento da tuba é essencial no processo de fertilização. Enquanto cresce, o embrião produz secreções que podem ser tóxicas a ele. No corpo da mulher, ele é constantemente "lavado" e se livra desse perigo.

Parado numa incubadora, é um risco para ele próprio. Imitar esse movimento, contudo, não é nada simples.

Atualmente, as clínicas conseguem copiar uma boa parte do processo natural, mas não tudo. Na fertilização, o espermatozóide é injetado dentro do óvulo.

Depois, esse embrião recém-formado, chamado zigoto, é guardado por alguns dias dentro de uma incubadora, escura e quente como um útero.

O embrião permanece mergulhado num líquido, chamado meio, que fornece o alimento necessário até atingir o tamanho adequado para ser implantado numa mulher, com cerca de 100 células.

Só que, até hoje, o embrião fica completamente parado dentro da incubadora.

Testes em animais

Segundo
o líder do projeto, Gary Smith, da Universidade de Michingan, nos Estados Unidos, o sistema está muito mais próximo da situação real do que o método corrente de reprodução assistida de embriões.

"O microcanal permite que o embrião role, estimulando a comunicação entre as células, receba os nutrientes necessários para seu crescimento e elimine fluidos metabólicos", diz.

A técnica já foi amplamente testada em animais com resultados animadores. Num mesmo dia, embriões de três origens mostram condições diferentes: aquele que rolou dentro do canal artificial tinha 110 células - número perto do real, que é de 145 células, e muito mais do que em um sistema estático, com 65 células.

"A qualidade de um embrião é medida por sua morfologia, e é possível ver nitidamente que essas células estão mais próximas", afirma Smith. "Tais resultados confirmam as melhores taxas de gestação".

O trabalho será apresentado a especialistas neste mês em New Orleans (EUA) e aguarda publicação em uma revista especializada.

A equipe espera começar testes com células humanas no ano que vem no Japão, nos Estados Unidos e no Brasil.

Os pesquisadores já trabalham para permitir que também a fecundação ocorra dentro desse canal, sem a interferência de um técnico.


Data: 11/09/2006