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Caos climático: 'bomba de efeito retardado'

Gases aprisionados no gelo ampliam calor

O aquecimento global do planeta está criando uma verdadeira "bomba de efeito retardado", alerta um estudo publicado na "Nature".

A medida que a Terra se torna mais quente, gases de efeito estufa, que estavam aprisionados em camadas de solo congelado perene (permafrost), começam a emergir em velocidade muito mais rápida do que a estimada.

O metano aprisionado num tipo especial de permafrost está aflorando cinco vezes mais rápido do que o estimado originalmente, aponta o estudo.

Os cientistas se mostraram alarmados ao constatarem a existência de um ciclo extremamente perigoso do aquecimento, que não havia sido levado em conta nos prognósticos iniciais: o aquecimento já está derretendo camadas de gelo eterno que haviam permanecido congeladas durante milhares de anos.

Ao derreter, o permafrost libera metano e anidrido carbônico. Ao chegarem à atmosfera, esses gases contribuem para reter o calor da Terra, aumentando o efeito estufa e acelerando o derretimento de áreas de gelo eterno.

"Quanto mais a temperatura aumenta, mais permafrost se derrete, aumentando a tendência de construção de um ciclo vicioso", advertiu Chris Field, diretor de ecologia global do Instituto Carnegie, em Washington. "Isso é o mais inquietante desse assunto."

Existem muitos mecanismos que tendem a se perpetuar e relativamente poucos que tendem a ser interrompidos.

O fenômeno relatado na "Nature" é mais observado na Sibéria, embora também ocorra em outras regiões, num tipo específico de permafrost rico em carbono, congelado há 40 mil anos.

"Os efeitos podem ser profundos", disse Katey Walter, da Universidade do Alasca. "Está saindo muito (gás) e há muito mais para sair."

Um outro estudo recentemente publicado na "Science" determinou que a quantidade de carbono aprisionado nesse tipo de permafrost - chamado de yedoma - é muito maior do que se pensou originalmente e poderia guardar até cem vezes a quantidade lançada na atmosfera em um ano pela queima de combustíveis fósseis.

"É como uma bomba de efeito retardado", comparou Ted Schuur, da Universidade da Flórida.


Data: 11/09/2006